Arquivo do Autor: Administrador

Pandemia COVID-19: o Brasil retrocede ainda mais em ações de valorização das/os profissionais da educação

Em foto, é possível ver multidão de pessoas com braços levantados, segurando cartões ou cédulas. Cena remete a um momento de votação direta.
EBC/Divulgação

Valorização das/os profissionais da educação: uma tarefa urgente

O direito à educação na Constituição Federal de 1988 exige a integração de princípios constitucionais para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e para o trabalho. Dentre esses princípios estão a “igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola”,  a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”; a “valorização dos profissionais da educação”, a “gestão democrática”, o “pluralismo de ideias e concepções pedagógicas” e o cumprimento do “piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública” (CF/88, art.206, incisos I, II, V, VI, IV e VIII, respectivamente). 

Apesar deste texto aprofundar questões referentes ao inciso V que determina a valorização das e dos profissionais da educação, reafirmado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº. 9.394/96), no seu art. 67; a interpretação da Constituição nos permite afirmar que o direito à educação só será garantido em sua plenitude se todos os princípios constitucionais estiverem integrados. Assim, falar sobre a valorização das/os profissionais de educação percorrerá, inevitavelmente, outas agendas fundamentais para a garantia do direito à educação.

A pandemia COVID-19 trouxe diversas reflexões sobre as políticas públicas que garantem os direitos sociais da população. Para a superação desse contexto dramático é preciso pensar em solução integrada entre as políticas públicas, ou seja, a saída requer a articulação das políticas de saúde, assistência social, moradia, transferência de renda e educação. Problemas complexos necessitam soluções complexas e negar qualquer direito às políticas sociais neste momento trará impactos que serão difíceis de superar a médio e longo prazos.

Não é de hoje que a agenda da valorização das/os profissionais de educação preocupa educadoras/es, organizações de sociedade civil, movimentos sociais e famílias que lutam e exigem do estado a garantia do direito à educação pública para todas e todos. Não à toa o Plano Nacional de Educação (PNE), um documento construído com significativa participação da sociedade civil, tem três metas que tratam da docência (16, 17 e 18). São propostas de aperfeiçoamento da formação (inicial, continuada e de pós-graduação), de formulação de planos de carreira, de equiparação salarial ao rendimento médio de outras áreas e de contratação em regime de provimento efetivo.

No Brasil há uma diferença salarial imensa entre professoras/es e profissionais de outras áreas com mesmo nível de formação. O  valor definido em lei federal é de R$ 2.886,24 para uma jornada de 40 horas semanais. E o pior: 45% dos municípios brasileiros sequer cumprem esse piso. Esse valor do piso salarial no Brasil está bem abaixo da média mundial. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019, evidenciou que no ensino infantil, o Brasil está na 30ª posição entre 33 países em que a organização conseguiu coletar informações sobre salários do magistério. Nos ensinos fundamental e médio, os brasileiros ocupam a última posição entre os 40 países em que há dados salariais.

Além disso há um problema nos mecanismos de contratação. Por exigência constitucional, a contratação de professoras/es deve ser feita por concurso público. Entretanto, é cada vez maior o número de sistemas que promovem vínculos via contratos temporários. Essa forma de contratação é permitida em situações de tamanha urgência, “excepcional interesse público”, que impede a realização de concurso, mas tem se tornado o padrão em muitos sistemas.

As/os professoras/es não realizam seu trabalho por amor ou vocação, elas/es querem ser tratadas/os e valorizadas/os como profissionais, já dizia Paulo Freire, “professora sim, tia não!”. Quanto mais se coloca a docência nesse lugar do voluntarismo e da solidariedade, mais se desvaloriza a profissão reforçando a ideia de que demandas das confederações e sindicatos de professoras/es são regalias.

Para contribuir ainda com esse cenário é importante ressaltar a crescente atuação de grupos fundamentalistas religiosos no Congresso Nacional e nos legislativos estaduais e municipais, como o Movimento Escola Sem Partido, que ameaçam profissionais da educação tentando censurar o debate sobre a valorização das diversidades humanas, mais especificamente nas agendas de combate ao racismo; à violência contra meninas e mulheres, principalmente negras e à homofobia; ferindo outros princípios constitucionais que tratam da liberdade de aprender e ensinar e do pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.

O resgate desses pontos é fundamental para reafirmar que profissionais da educação não são valorizadas/os no país, mas em tempos de pandemia é possível constatar um acirramento dessa desvalorização em decorrência da suspensão das atividades presenciais e da exigência de estados e municípios para que profissionais da educação realizem ensino à distância

Tempos de pandemia

Após a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional em decorrência da doença causada pelo coronavírus (COVID-19), governadores e prefeitos brasileiros decretaram o fechamento das escolas e paralisação do calendário escolar.

A incerteza do tempo de duração da pandemia e projeções de que a situação se sustentará por 3 ou 4 meses fez com que gestoras/es, agentes públicos, conselheiras/os e secretários/as de educação buscassem alternativas para a retomada do calendário escolar.

Estimulados/as pela Medida Provisória 934 publicada no dia 1 de abril que desobrigou, até o final do ano de 2020, as escolas de educação básica a cumprirem os 200 dias letivos, mas manteve as 800 horas letivas anuais e também pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovado no dia 28 de abril, que trata de diretrizes sobre reorganização dos calendários escolares e sobre a implementação de atividades não presenciais; estados e municípios têm se organizado para que as atividades escolares sejam realizadas à distância. 

A partir daí várias medidas foram implementadas pelas redes: material impresso enviado pelo correio às casas das/os estudantes; plataforma virtual cedida por grandes empresas intituladas GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) que comercializam informações a fim de gerar tendências de comportamento futuro de usuários, aulas pela TV e professoras/es online durante o horário das aulas e fora do horário das aulas também.

O primeiro ponto a ser destacado é que para tomar decisões sobre reorganização do calendário letivo e ensino à distância as/os professoras/es devem ser consultadas/os, princípio da gestão democrática na educação. No inciso IV do art. 12 da LDB, os estabelecimentos de ensino receberam a incumbência de velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente. Assim, na organização da educação nacional, as/os docentes são importantes agentes na construção dos Projetos Políticos Pedagógico das escolas, o que exige, da parte da gestão escolar, o zelo pelo seu plano de trabalho e pelas condições de realização do mesmo, já que as/os docentes são participantes da organização da educação nacional.

A exigência de formação continuada também está presente na LDB como orientação de uma política para o magistério que busca a valorização da/o profissional da educação escolar. A formação continuada é considerada direito de todas/os as/os profissionais que trabalham em qualquer estabelecimento de ensino, uma vez que fortalece a relação ensino-aprendizagem e possibilita a adequação, no contexto de suspensão das aulas, dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas para buscar alternativas de trabalho que garantam “igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola” (Art. 206 da CF).

Hoje no Brasil a tecnologia – pensando em laboratórios de informática e internet banda larga – não está acessível a cerca de metade das escolas públicas de ensino fundamental, de acordo com o Censo Escolar. Se professoras/es não praticam tecnologia no cotidiano escolar seja com seus pares, seja com estudantes, como exigir que, de uma hora para outra, transfiram seus planejamentos de aulas presencias para aulas à distância? Há relatos de professoras/es sobre a falta de familiaridade com a internet e com as ferramentas tecnológicas.

Outro ponto importante e que também dificulta a implementação do ensino à distância durante o período de interrupção das aulas por causa da pandemia COVID-19 se refere às condições  socioeconômicas dos e das estudantes e também das/os profissionais da educação, já que o ensino à distância em tempos de pandemia requer equipamento e internet banda larga também em suas casas.

Desde o início de maio o Ministro da Economia vinha tentando junto ao Senado Federal congelar salários de servidores públicos até 2021, incluindo profissionais da educação. Por pressão de  deputados da oposição e de trabalhadoras/es da educação a exclusão do magistério das carreiras que terão congelamento foi aprovada.

Apesar de estarem trabalhando na educação básica para implementar as propostas de ensino à distância impostas por estados e municípios, inúmeros são os relatos de demissões, cortes de carga horária, de benefícios como vale alimentação e vale transporte e de diminuição de salários de profissionais da educação em todo o país, mesmo o Brasil estando na liderança do ranking de pior piso salarial do magistério se comparado a outros países (OCDE). 

Os relatos das/os professoras/es da educação básica é que estão muito mais sobrecarregadas/os do que antes do fechamento das escolas. Vários fatores contribuem para isso: o replanejamento em tempo recorde de suas práticas pedagógicas para desenvolverem atividades à distância, fiscalização para reproduzirem tarefas muitas vezes pré-definidas e enviarem documentos que comprovem a realização dessas tarefas para a supervisão, disponibilização e liberação de whatsapp pessoal para familiares e colegas tirarem suas dúvidas e/ou proporem algo novo, trabalho à distância com crianças pequenas da educação infantil, alfabetização à distância, aulas para estudantes deficientes à distância. E a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda em processo inicial de letramento?

Sobre a EJA vale destacar que no final do mês de abril foi publicada uma Portaria onde o prefeito da cidade de São Paulo suspendeu o repasse da ajuda de custo financeiro às educadoras e educadores do MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos) até o retorno das aulas presenciais. A medida afetará educadoras e educadores do MOVA que não irão receber ajuda de custo da prefeitura de São Paulo durante a pandemia. Em sua página do Facebook a educadora e integrante do Fórum EJA, Iva Mendes, denunciou “suspender o pagamento d@s educador@s nesse período de pandemia, onde a maioria perdeu seu emprego formal e essa verba é o que garante o sustento de muitas famílias. Devido a essa mesma verba, muit@s educador@s não conseguiram o auxílio emergencial. Cortar essa ajuda de custo nesse momento, é um ato criminoso contra a humanidade”.

Durante o período de suspensão das aulas em decorrência da pandemia COVID-19 constituem direito dos/as estudantes e da sociedade em geral uma educação pública de qualidade que garanta os direitos trabalhistas das/os profissionais da educação, manutenção de salário e plano de carreira, além da formação continuada e das condições apropriadas de trabalho.

Sobre a gestão democrática, formação continuada das/os profissionais de educação, manutenção de salário e plano de carreira e garantia de condições adequadas de trabalho para a diminuição dos prejuízos educacionais num contexto de pandemia, nenhuma recomendação para estados e municípios no Parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Uma questão de gênero

Para falar sobre valorização das profissionais de educação é preciso considerar o recorte de gênero, já que hoje no Brasil mais de 80% das professoras da educação básica são mulheres.

Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019, mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, na comparação com 10,3 horas semanais gastas nessas atividades pelos homens, considerando ocupações iguais no mercado de trabalho. 

Entre as atividades em que a taxa das mulheres foi maior, as três com as maiores diferenças entre os sexos foram cozinhar (34,7%), lavar roupas e calçados (36,9%) e limpar o domicílio (13,9%). Entre os homens em coabitação nas condições de responsáveis ou cônjuges, o percentual foi bem menor do que o das mulheres nessas mesmas condições evidenciando a desigualdade de gênero quando se trata de trabalho doméstico, como demonstram os Gráficos (Fonte IBGE 2019).

Na imagem é possível ver gráfico comparativo de tarefas domésticas realizadas por homens e mulheres em coabtação. Entre as atividades em que a taxa das mulheres foi maior, as três com as maiores diferenças entre os sexos em coabtação foram cozinhar (39,2%), lavar roupas e calçados (43,9%) e limpar o domicílio (17%).
Gráfico 1
 Na imagem é possível ver gráfico comparativo de tarefas domésticas realizadas por homens e mulheres conjuguês. Entre as atividades em que a taxa das mulheres foi maior, as três com as maiores diferenças entre os sexos na situação de conjuguês foram cozinhar (40,8%), lavar roupas e calçados (44,9%) e limpar o domicílio (18,3%).
Gráfico 2

O percentual de mulheres (37%) que realizavam cuidados com crianças, idosos ou pessoas enfermas – moradores do domicílio ou parentes não moradores – também se manteve maior do que o dos homens (26,1%).

As medidas de contenção do novo coronavírus, como a suspensão de aulas e a exigência de que famílias fiquem em casa, têm deixado muitas mulheres ainda mais sobrecarregadas. Para aquelas que estão em regime de home office, como é o caso das professoras que precisam adequar seus planejamentos para realizar ensino à distância, equilibrar o trabalho remunerado com as milhares de tarefas domésticas, contando com pouca ou nenhuma ajuda de companheiros e outros membros da família, tem sido uma tarefa bastante árdua. 

Há ainda a situação das mais de 11 milhões de famílias no Brasil compostas por mães solo (IBGE 2015), que podem não ter com quem compartilhar o trabalho dentro de casa. Muitas contam com o apoio de parentes, entre eles pessoas mais velhas, com quem não podem contar no momento atual – pessoas idosas fazem parte do grupo de risco da COVID-19 e as autoridades recomendam que elas não se encontrem com pessoas mais novas para evitar contaminação.

Além das desigualdade de gênero no que se refere ao trabalho doméstico não remunerado, a Justiça Estadual do Rio de Janeiro, no final do mês de março, já havia registrado um aumento de 50% nos casos de violência doméstica nos dias anteriores, em que muitas pessoas passaram a adotar o confinamento.

A preocupação com as vítimas de violência doméstica durante o período de distanciamento social e quarentena não é só brasileira, mas global. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que uma a cada três mulheres no mundo sofrem violência física ou sexual, na maioria das vezes perpetrada por um parceiro íntimo. Para essas mulheres, ficar em casa para conter a disseminação do vírus significa estar trancada com seu agressor.

Se, como já explicitado, a grande maioria das professoras de educação básica são mulheres, as informações sobre desigualdade e violência de gênero precisam ser consideradas pelos sistemas em suas propostas para a educação escolar em tempos de pandemia.

O retorno às atividades presenciais será bastante desafiante após o período de isolamento. Nós, profissionais da educação precisamos estar preparadas para repor aulas, rever conteúdos, buscar estudantes que eventualmente desistiram de estudar por causa do período de suspensão das aulas presenciais (isso é muito comum no caso da EJA, por exemplo), fazer reforço junto aos estudantes que mais precisam, enfim, retomar os processos de ensino-aprendizagem depois de um período tão dramático de pandemia COVID-19. 

Para que isso ocorra da melhor maneira possível a agenda da valorização das/os professoras/es precisa ser assumida urgentemente pelos sistemas de ensino neste momento de pandemia. É dever do estado garantir participação efetiva das professoras nos debates para impactar a elaboração das propostas educacionais durante a suspensão das aulas, formação continuada, condições de trabalho, salário digno e carreira. Tudo isso como parte do que se entende por qualidade na educação.

Claudia Bandeira

Claudia Bandeira, pedagoga, mestre em Educação pela PUC São Paulo e assessora da Iniciativa De Olho nos Planos pela organização Ação Educativa. Compõe o Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e atua na área da educação principalmente com políticas públicas educacionais, educação popular, direito à educação de pessoas privadas de liberdade, desigualdades e diversidades na educação.

Leia também

“Não dá para fazer política pública sem ouvir estudantes”, afirma Claudia Bandeira
COVID-19: Como o Estado deve agir para proteger crianças e adolescentes
Para enfrentar pandemia, entidades pedem ao STF suspensão imediata do Teto de Gastos
– “Sem relação com o espaço, a educação fica esvaziada”, afirma professor da UFABC

ONU: “As políticas econômicas e sociais irresponsáveis do Brasil colocam milhões de vidas em risco”

Relatores recomendam que Brasil acabe imediatamente com políticas de austeridade, como o Teto de Gastos, e aumente o investimento no combate à desigualdade para que seja possível enfrentar a pandemia

Foto com logo das Organização das Nações Unidas (ONU)
ONU/Divulgação

Dois especialistas em direitos humanos da ONU disseram que o Brasil deveria abandonar imediatamente políticas de austeridade mal orientadas que estão colocando vidas em risco e aumentar os gastos para combater a desigualdade e a pobreza exacerbada pela pandemia da COVID-19.

“A epidemia da COVID-19 ampliou os impactos adversos de uma emenda constitucional de 2016 que limitou os gastos públicos no Brasil por 20 anos”, disse o especialista independente em direitos humanos e dívida externa, Juan Pablo Bohoslavsky, e o Relator Especial sobre pobreza extrema, Philip Alston. “Os efeitos são agora dramaticamente visíveis na crise atual”.

Os especialistas observaram que, por exemplo, apenas 10% dos municípios brasileiros possuem leitos de terapia intensiva e o Sistema Único de Saúde não tem nem a metade do número de leitos hospitalares recomendado pela Organização Mundial da Saúde.

“Os cortes de financiamento governamentais violaram os padrões internacionais de direitos humanos, inclusive na educação, moradia, alimentação, água e saneamento e igualdade de gênero”, afirmaram.

“O sistema de saúde enfraquecido não está sobrecarregado e está colocando em risco dos direitos à vida e a saúde de milhões de brasileiros que estão seriamente em risco. Já é hora de revogar a Emenda Constitucional 95 e outras medidas de austeridade contrárias ao direito internacional dos direitos humanos”.

Especialistas em direitos humanos da ONU expressaram repetidamente a preocupação de que a política brasileira estava priorizando a economia sobre a vida das pessoas.

Outra economia é possível

“Em 2018, pedimos ao Brasil que reconsiderasse seu programa de austeridade econômica e colocasse os direitos humanos no centro de suas políticas econômicas”, disseram. “Também expressamos preocupações específicas sobre os mais atingidos, particularmente mulheres e crianças vivendo em situação de pobreza, afrodescendentes, populações rurais e pessoas residindo em assentamentos informais “.

Os especialistas condenaram a política de colocar a “economia acima da vida”, apesar das recomendações de direitos humanos e da Organização Mundial da Saúde. “Economia para quem?”, perguntaram eles. “Não pode se permitir colocar em risco a saúde e a vida da população, inclusive dos trabalhadores da saúde, pelos interesses financeiros de uns poucos”, ressaltaram. “Quem será responsabilizado quando as pessoas morrerem por decisões políticas que vão contra a ciência e o aconselhamento médico especializado?”.

O Brasil tem feito vários esforços louváveis, eles observaram. “A renda básica emergencial, bem como a implementação das diretrizes de distanciamento social das autoridades subnacionais, são medidas de salvamento de vidas que são bem-vindas. No entanto, é preciso fazer mais”.

“Em uma recente declaração e carta aos governos e instituições financeiras internacionais, eu forneci recomendações econômicas, fiscais e tributarias concretas”, disse Bohoslavsky.

“A COVID-19 crise deve ser uma oportunidade para os Estados repensarem suas prioridades, por exemplo, introduzindo e melhorando os sistemas universais de saúde e proteção social, bem como implementando reformas tributárias progressivas, disseram os especialistas da ONU.

“Os Estados de todo o mundo devem construir um futuro melhor para suas populações, e não valas comuns”.

A declaração dos especialistas foi endossada pelo Sr. Léo Heller, Relator Especial sobre os direitos humanos à água potável e saneamento; Sra. Hilal Elver, Relatora Especial sobre o direito à alimentação, Sra. Leilani Farha, Relatora Especial sobre o direito à moradia adequada, Sr. Dainius Pūras, Relatora Especial sobre o direito à saúde física e mental; Sra. Koumbou Boly Barry, Relatora Especial sobre o direito à educação, e o Grupo de Trabalho sobre discriminação contra mulheres e meninas: Meskerem Geset Techane (Presidente), Elizabeth Broderick (Vice-Presidente), Alda Facio, Ivana Radačić, e Melissa Upreti.

Senhor Juan Pablo Bohoslavsky (Argentina) foi nomeado especialista independente da ONU sobre os efeitos da dívida externa nos direitos humanos pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 8 de maio de 2014.

Senhor Philip Alston (Austrália) assumiu suas funções como relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos em junho de 2014.

Os peritos independentes fazem parte do que se conhece como procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos. Procedimentos Especiais, o maior corpo de especialistas independentes no sistema de direitos humanos das Nações Unidas, é o nome atribuído aos mecanismos de inquérito e monitoramento independentes do Conselho, que trabalha sobre situações específicas de cada país ou questões temáticas em todas as partes do mundo. Os especialistas dos Procedimentos Especiais trabalham a título voluntário; eles não são funcionários da ONU e não recebem um salário pelo seu trabalho. São independentes de qualquer governo ou organização e prestam serviços em caráter individual.

Austeridade no contexto de pandemia

No mês de março (17/03), um grupo de entidades de direitos humanos entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal pela suspensão imediata da EC 95/16.  No documento, as organizações alegam que a pandemia chega ao país em um contexto de extrema fragilização das políticas sociais e de aumento da pobreza da população, e que seus efeitos vão ultrapassar 2020.

No início de abril (13/04), as organizações lançaram um alerta sobre a absurda priorização do mercado em detrimento dos investimentos sociais na PEC do Orçamento de Guerra, que está em tramitação no Congresso.

A derrubada do Teto de Gastos foi também recomendada por uma pesquisa orçamentária conduzida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC). A partir da análise do orçamento público, a pesquisa mostra que as medidas de austeridade fiscal e a aprovação da Emenda Constitucional 95 reduziram as políticas sociais necessárias para proteger a população mais vulnerável, deixando o Brasil sem imunidade para enfrentar a pandemia.

Leia também

– Coronavírus: entidades pedem ao STF suspensão imediata do Teto de Gastos
– Teto de Gastos inviabiliza a implementação do PNE
– STF recebe manifestação de inconstitucionalidade da EC95
– Cumprimento dos planos e retirada dos efeitos da EC95 são pautas prioritárias para secretarias de educação

STF reconhece inconstitucionalidade de proibição de gênero em escolas

Tribunal tomou decisão por unanimidade ao julgar a ADPF 457, uma das quinze ações que questionam leis baseadas em propostas do movimento Escola Sem Partido. Entidades consideram resultado uma vitória na defesa de uma educação de qualidade

Em foto, é possível ver frente do Supremo Tribunal Federal e estátua da justiça.

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta sexta-feira, dia 24, o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 457, que questiona a constitucionalidade da Lei n. 1516, aprovada pela Câmara Municipal de Novo Gama em 2015.  A corte reconheceu a inconstitucionalidade formal e material da proibição de materiais que tratam sobre questões de gênero e sexualidade em escolas municipais. A ação foi proposta pela Procuradoria Geral da República (PGR) em 2017.

A decisão foi tomada por unanimidade, no modelo de julgamento virtual. O relator, ministro Alexandre de Moraes, julgou procedente o pedido da PGR, que afirma que a lei municipal viola a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional e princípios e dispositivos constitucionais como o direito à igualdade, a vedação de censura em atividades culturais, a laicidade do estado e o direito à liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Os outros ministros seguiram o voto do relator, sendo que apenas o ministro Edson Fachin apresentou voto separado, acompanhando o relator com ressalvas. Ainda não foram divulgadas a íntegra dos votos.

Rede de defesa

Para organizações e redes de educação e direitos humanos, o resultado é uma vitória na defesa de uma educação de qualidade, pois a censura às escolas e à atividade docente e proibição da abordagem de questões de gênero e sexualidade promovem preconceitos e estimulam perseguições contra integrantes da comunidade escolar.  Um conjunto de organizações elaborou subsídios ao STF que atestam a violação de direitos básicos em leis que proíbem a abordagem de gênero e em outras inspiradas no movimento Escola sem Partido.

Entre as instituições e redes, constam: Ação Educativa, Artigo 19, Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH), Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Associação Mães pela Diversidade, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), Associação Nacional de Política e Administração de Educação, Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED), Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA), Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), Associação Nacional pelos Direitos Humanos LGBTI (ANAJUDH), Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (CEDECA Ceará), Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES), Cidade Escola Aprendiz, Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres (CLADEM Brasil), Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA), Conectas Direitos Humanos, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Confederação Nacional dos Trabalhadores dos Estabelecimentos em Educação (CONTEE), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, Frente Nacional Escola Sem Mordaça, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero (GADvS), Instituto Alana, Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), Movimento Educação Democrática, Open Society Justice Initiative, Plataforma DHESCA, Projeto Liberdade, Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (RENAFRO), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior (ANDES-SN), THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero e União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), Associação TAMO JUNTAS – Assessoria Jurídica Gratuita para Mulheres Vítimas de Violência.

Em novembro de 2018, um conjunto de 60 entidades lançou o Manual contra a Censura nas Escolas (www.manualdedefesadasescolas.org.br) e divulgou na época um Apelo Público ao STF sobre a urgência de o Tribunal decidir em prol da inconstitucionalidade das leis baseadas nas propostas do movimento Escola sem Partido.

Outras ações no STF

A ADPF 457 é uma das quinze ações que tratam de conteúdos vinculados às propostas do movimento Escola sem Partido. Três das demais – a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6038, ajuizada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), a 5580, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação e a ADI 5537, proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE) – questionam a Lei 7.800/2016, de Alagoas, que instituiu no âmbito do sistema estadual de ensino o programa “Escola Livre”. Desde março de 2017 a lei de Alagoas foi suspensa por liminar do Ministro Luis Roberto Barroso, aguardando julgamento definitivo do STF. Em novembro de 2018, o julgamento foi tirado de pauta.

Outra ação é a ADPF 624, proposta pela Procuradoria Geral da República em 2019 e que tem como relator o Ministro Celso de Mello. A ADPF 624 cita o Manual contra a Censura nas Escolas como uma das suas referências, material que contou com o apoio da Procuradoria Federal do Cidadão (PFDC/MP) e do Fundo Malala.  A Ação propõe a inconstitucionalidade do conjunto das leis municipais e estaduais inspiradas nas propostas do movimento Escola sem Partido. Segundo o último levantamento do Movimento Educação Democrática, de 2014 a agosto de 2019 foram apresentados 121 projetos de leis nos legislativos municipais e estaduais de todo o país vinculados ao Escola sem Partido.

Leia também

-Em resposta às agressões dirigidas a professoras(es), entidades lançam Manual de Defesa Contra a Censura
– Três ideias que circulam sobre doutrinação e “ideologia de gênero” na escola e que são falsas
– Conselho Nacional de Direitos Humanos aprova resolução que repudia o Escola Sem Partido
– PFDC declara inconstitucional o modelo de notificação extrajudicial que proíbe discussão de gênero nas escolas

Em discussão no Congresso, nova proposta de FUNDEB não garante o direito à educação com equidade

Ao transferir recursos às redes de ensino por meio da aferição de desempenho de estudantes, proposta de FUNDEB anuncia acirramento das desigualdades educacionais. 

Foto apresenta parlamentares em mesa conversando sobre o FUNDEB. Na foto é possível ver Dorinha Seabra (DEM) e Rodrigo Maia (DEM). Também está presente a Gulmakai Champion Denise Carreira.
Capítulo Brasil da Rede Gulmakai se reúne com Rodrigo Maia para conversar sobre FUNDEB. Júlia Daher/De Olho nos Planos

Está em discussão no Congresso a renovação do Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Principal mecanismo de financiamento da educação no país, o FUNDEB hoje subsidia 40 milhões de matrículas, da creche ao Ensino Médio. O modelo vigente desde 2007 termina este ano e uma nova proposta de fundo deve ser aprovada em breve. 

“É uma oportunidade sem precedentes de pensar em uma política de requalificação do financiamento para, de fato, como está colocado no Plano Nacional de Educação (PNE), avançar progressivamente rumo ao direito à educação de fato pleno para a população”, avalia o professor da Universidade Federal do ABC, Salomão Ximenes, em entrevista ao Podcast Professores Contra o Escola Sem Partido.

Segundo Salomão, apesar de ter sido um grande passo em relação ao mecanismo anterior de financiamento, o FUNDEF, os valores arrecadados no modelo atual de FUNDEB ainda são insuficientes para que o país dê conta de todas as demandas da Educação Básica. Ele afirma que, para que seja possível reduzir desigualdades, ampliar matrículas, melhorar a qualidade da educação e assegurar a valorização das/os profissionais, é necessário um maior financiamento da área com complementação da União ao Fundo. “O valor atual é insuficiente para o cumprimento do mínimo para garantir uma educação em condições de qualidade em todo o Brasil”, pontua.

Na leitura do professor, as discussões em torno do novo modelo de FUNDEB têm revelado a existência de uma “ideologia do financiamento suficiente da educação brasileira”. Ignorando tanto documentos internacionais (que evidenciam o subfinanciamento da Educação Básica no Brasil), quanto o próprio PNE (que propõe quase duplicar o percentual do PIB investido em educação), grupos empresariais e seus parlamentares aliados têm defendido que o principal problema da educação é a má gestão e distribuição dos recursos. 

Salomão coloca que, a partir de um discurso bastante sinuoso e enganoso no sentido de defender maior equidade e igualdade, o que esse campo defende é que não são necessários mais recursos da União, bastaria uma redistribuição entre estados e municípios dos recursos comprovadamente insuficientes.”Falar que municípios que sequer alcançaram as metas do PNE têm recursos suficientes é mera ideologia”, argumenta.

Para Salomão, para contrapor a ideia de que já há investimento suficiente em educação é necessário parametrizar o debate a partir do Custo-Aluno-Qualidade.

O CAQi é um padrão mínimo de investimento que calcula quanto custa por ano, por etapa e modalidade da Educação Básica, por aluno, para se garantir insumos de qualidade em toda escola do país. Esses insumos vão desde a infraestrutura dos prédios até a garantia de condições de trabalho, formação e valorização das/os profissionais da educação e cumprimento do piso do magistério que atualmente é de R$ 2.886, 24 para 40h semanais.

“É importante que adotemos o CAQi para que tenhamos clareza do quanto é necessário investir para assegurar uma educação de qualidade. Senão, a gente começa a achar que Rio de Janeiro e São Paulo, que são mais ricos, têm recursos suficientes, quando sequer conseguem implementar o mínimo segundo o CAQi. Sequer conseguem estabelecer um número adequado de alunos por sala, uma remuneração atrativa do magistério, uma boa infraestrutura nas escolas, uma inclusão significativa de todas as crianças, um atendimento adequado na Educação de Jovens e Adultos”, argumenta.

Ele explica que, sem que haja aumento do financiamento por parte da União e sendo aprovada a proposta defendida pelo campo empresarial que atua na educação, municípios de maior arrecadação perderiam recursos e seriam os responsáveis por financiar outros municípios mais pobres,ou seja, seriam os municípios os responsáveis pelo financiamento da Educação Básica no país desobrigando a União de sua responsabilidade de acabar com o histórico subfinanciamento da área.  

Um modelo de FUNDEB que garanta o direito à educação

Reunidas na Campanha Nacional pelo Direito à Educação, entidades de defesa da garantia do direito à educação lançaram uma nota técnica com propostas de de aprimoramento do desenho do FUNDEB.

Na nota, as entidades apontam que, para que o FUNDEB seja capaz de consagrar o direito à educação e garantir a implementação das metas do PNE, é imprescindível que haja um  aumento efetivo da complementação da União. Este aumento deve ter como critério de cálculo o Custo-Aluno-Qualidade-Inicial.

Para garantir o padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo CAQi, as entidades afirmam que é necessário que a complementação da União ao Fundo seja elevada do patamar atual de 10% para 40%.

“Não faz sentido o Governo Federal entrar com só 10% do Fundeb quando ele arrecada 60% da receita tributária do país. Por isso a gente defende que o Governo Federal entre com 40%. Com esses 40% a gente consegue dar um primeiro passo de implementar o CAQi, que o PNE dizia que tinha que ser implementado em 2016 e não foi implementado”, defende Salomão.

Assinam a nota Ação Educativa, ActionAid, Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (FINEDUCA), Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (CEDECA-CE), Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (Mieib), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

Repasse meritocrático de recursos

Em sua formulação mais recente, apresentada no dia 3 de março, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de renovação do Fundo altera a maneira como é realizada a distribuição dos recursos advindos da complementação da União, vinculando-os aos resultados educacionais das redes de ensino. As redes que obtiverem melhores resultados, receberão mais dinheiro. 

Na avaliação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, condicionar o repasse de recursos ao desempenho escolar pode aumentar as desigualdades entre as redes, já que uma melhoria no desempenho depende de uma elevação do investimento. “No mundo todo, isso resultou em maior desigualdade entre redes e escolas públicas”, afirma a entidade em nota técnica.

Para tentar amenizar esse efeito, o novo texto do FUNDEB propõe constitucionalizar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SINAEB). Previsto no art. 11 do PNE, o SINAEB propõe o estabelecimento de processos avaliativos mais amplos, participativos e diversificados. Porém, a nota da Campanha defende que caso seja mantido o cenário de distribuição de recursos a partir de resultados em avaliações externas em larga escala será necessário “aprimorar a redação do substitutivo, vedando que redes públicas com maior arrecadação e, portanto, com maior capacidade de avançar nas avaliações de larga escala, não sejam ainda mais privilegiadas”. 

A regulamentação do SINAEB foi construída pelo INEP em diálogo com entidades do campo, movimentos sociais e universidades, contudo, foi revogada em 2016, durante a presidência de Michel Temer.

O condicionamento do financiamento à melhoria de desempenho também é criticado pela FINEDUCA. Para a associação, as consequências da implementação desses critérios são “inaceitavelmente incertas e carentes de suficiente fundamentação”, pois seriam necessárias avaliações anuais de desempenho dos municípios e também porque pode acirrar desigualdades prejudicando as redes de ensino das localidades cujos estudantes têm situação socioeconômica mais desfavorável.  

O novo FUNDEB e a educação escolar indígena, quilombola e em territórios de vulnerabilidiade social

O aumento do percentual de contribuição da União de 10% para 40% é também defendido pelo Capítulo Brasil da Rede Gulmakai do Fundo Malala. O Capítulo é constituído por ativistas, vinculados a organizações da sociedade civil brasileiras, que foram convidados a integrarem a Rede por Malala Yousafzai, prêmio Nobel da Paz, em sua visita ao Brasil em julho de 2018.

Em estudo lançado no final de 2019, as entidades defendem que, além do aumento da complementação, é necessário que o Fundo tenha fatores de ponderação na distribuição de recursos que assegurem a educação escolar indígena, quilombola e no campo uma diferença positiva de pelo menos 50% em relação ao valor aluno-ano, até que sejam compatibilizadas com os custos reais pela implementação do CAQ.  

O documento defende também que as escolas dessas modalidades tenham acesso a um percentual adicional de recurso que funcionaria como um mecanismo complementar de correção de desigualdades intrarredes de ensino e intramunicípios.

Merenda e transporte em risco

A proposta também coloca em risco orçamentário o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE). A ameaça advém do fato da última versão do relatório, ainda a ser votado na Comissão Especial da Câmara, permitir que se utilize o Salário-Educação como parte da complementação da União ao Fundo.

O Salário-Educação é um recurso obtido através da tributação de empresas. De todo o montante arrecadado, 60% é direcionado aos estados e municípios segundo o número de matrículas.  Os outros 40% ficam sob a administração da União e, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), são utilizados para o custeio de programas suplementares da Educação Básica, como os de transporte, alimentação, material didático e saúde. 

Ao incorporar os recursos do Salário-Educação ao FUNDEB, a PEC15/15 apresenta um falso anúncio de aumento do investimento da União em educação, uma vez que não se trata de um recurso novo, mas sim de transferência dos Programas Nacionais de Alimentação e Transporte Escolar. Em decorrência dessa transferência de recursos o aumento de complementação da União ao Fundo anunciado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de 10% para 20%, na realidade não é uma duplicação nos investimentos. Segundo a projeção desenhada pela Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (FINEDUCA), com a utilização dos recursos do Salário-Educação, a real complementação da União ao Fundeb seria de 15,8%, e não de 20% como anunciado publicamente. 

Assim, além da complementação ser insuficiente, ações essenciais para o acesso e permanência de estudantes nas escolas garantidas pelos Programas Nacionais de Alimentação e Transporte Escolar correm sério risco de extinção. Mais uma vez as crianças, adolescentes e jovens mais prejudicados/as serão aqueles/as pertencentes às famílias mais vulneráveis economicamente e socialmente.

Investimento obrigatório em manutenção e desenvolvimento do ensino

Além de colocar em risco programas suplementares, a inserção da cota federal do  Salário-Educação no FUNDEB pode ter efeito sobre outros investimentos federais em educação.

De acordo com a Constituição, 18% das receitas da União devem ser utilizados na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE). Nesse percentual obrigatório, não são contabilizadas despesas suplementares, como a merenda. Assim, os recursos do Salário-Educação não eram contabilizados no percentual obrigatório de investimento da União. 

No desenho anterior de Fundeb, 30% do total da complementação de 10% da União ao Fundo podia ser considerado na contabilização destes 18% obrigatórios. Esse percentual de 30% é mantido no novo desenho de Fundo que propõe 20% de complementação descontados do percentual que a União já é obrigada a gastar em educação.  “O aumento, portanto, é uma ilusão”, analisa Salomão. Na visão do professor, isso pode ter efeito sobre investimentos em educação feitos pela União que não passam pelo Fundeb, como, por exemplo, o financiamento do Ensino Superior.

Leia também:

COVID-19: como garantir a proteção e educação de crianças e adolescentes?
Em decorrência da pandemia do COVID-19, entidades pedem suspensão do Teto de Gastos
Teto de Gastos inviabiliza implementação do Plano Nacional de Educação
Manual orienta comunidades escolares sobre como agir em caso de ameaça ou censura
Censo Escolar 2019: baixe os microdados sobre a Educação Básica no Brasil


COVID-19: Como o poder público e as comunidades escolares devem agir para proteger crianças e adolescentes?

Em dois guias, Rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Plataforma Cada Criança dão orientações para comunidade escolar, famílias, agentes locais e tomadores de decisão do poder público

Card de divulgação dos Guias COVID-19. Tratam-se de dois guias produzidos pela Rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e a Plataforma Cada Criança para orientar a comunidade escolar, familiares, famílias, agentes locais e tomadores de decisão do poder público sobre como agir para proteger crianças e adolescentes diante da pandemia do COVID-19.

Diante do aumento de casos de coronavírus no Brasil e no mundo, entidades de defesa do direito à educação prepararam dois guias de orientações sobre a educação e proteção de crianças e adolescentes.

Os materiais fornecem um compilado de informações checadas, comprovadas e acessíveis sobre como cidadãos ligados à educação podem agir, cobrar, e trabalhar pela proteção de maneira colaborativa. Além de informações dirigidas à população como um todo, há também propostas de ação para que o poder público possa garantir os direitos de nossas crianças e adolescentes na atual situação de emergência.

Ao direcionar recomendações à toda comunidade escolar, famílias e profissionais da proteção da criança e do adolescente, bem como aos tomadores de decisão do poder público, os documentos buscam dialogar com duas frentes centrais para o enfrentamento efetivo da pandemia do COVID-19.

No Volume 1, destinado a educadoras/es, gestoras/es escolares, familiares, assistentes sociais e demais profissionais da rede de proteção da criança e do adolescente, é possível encontrar informações sobre:

– O fechamento de escolas, o necessário isolamento social e os efeitos disso à população;

– As medidas preventivas indicadas pelas autoridades públicas e as orientações sobre o que fazer em escolas que ainda não fecharam;

– A situação de suspensão de aulas no Brasil e no Mundo em números e mapas;

– A necessidade de elevação do investimento nas áreas de saúde, assistência, segurança alimentar e educação e as formas de fazer pressão política para isso;

– O debate sobre os perigos de ampliar desigualdades sociais e educacionais ao considerar a educação a distância (EaD) uma atividade regular e contada nos dias letivos;

– As propostas de como reivindicar providências a realização de atividades complementares virtualmente e a flexibilização do cumprimento dos 200 dias letivos;

– Dicas do que fazer com as crianças e os adolescentes em casa;

– Propostas sobre como exigir o direito à alimentação escolar;

– Sugestões para proteger a saúde familiar;

– Indicações para proteger crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade, riscos ou violências em casa.

Já no Volume 2, que tem como público-alvo tomadores de decisão do poder público, é possível encontrar recomendações sobre as possibilidades de financiamento, garantia de direitos, suspensão das aulas e ao Ensino a Distância. Entre elas, estão:

– A indispensabilidade de suspensão da Emenda Constitucional 95/2016, que impôs um teto aos gastos sociais, fragilizando a capacidade do Estado em dar respostas adequadas a emergências como a do coronavírus;

– A necessidade de criação de um Fundo de Emergência em Defesa do Trabalho e Renda, que ofereça uma renda básica de emergência mensal, baseando-se na iniciativa de entidades que aderem ao rendabasica.org.br ;

– A importância do fechamento imediato das escolas, para conter a rápida propagação do coronavírus, seguindo as orientações do Ministério da Saúde;

– As propostas de reorganização dos calendários escolares em função da suspensão de aulas, adequando-os às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, sem reduzir o número de horas letivas;

– A relevância da participação de toda a comunidade escolar na tomada de decisões, e a promoção do diálogo da escola com os órgãos regulamentadores e as Secretarias de Educação;

– As sugestões de ação de garantia de segurança alimentar e sanitária durante o período de suspensão de aulas, como a distribuição de kits de alimentação, de itens básicos de limpeza e proteção;

– As orientações de proteção de populações em vulnerabilidade, como crianças e adolescentes em situação de rua, em situação de pobreza, violência, áreas de risco, negras, entre outras.

Confira os dois documentos na íntegra:

VOLUME 1: “Educação e Proteção de crianças e adolescentes – Comunidade escolar, família e profissionais da educação e proteção da criança e do adolescente”

VOLUME 2: “Educação e Proteção de crianças e adolescentes – Tomadores de decisão do poder público em todas as esferas federativas” 

Leia também:

Em decorrência da pandemia do COVID-19, entidades pedem suspensão do Teto de Gastos
Teto de Gastos inviabiliza implementação do Plano Nacional de Educação
Manual orienta comunidades escolares sobre como agir em caso de ameaça ou censura
“Sem relação com o espaço, a educação fica esvaziada”, afirma professor da UFABC
“Não dá mais para fazer política pública sem ouvir as/os estudantes”, afirma Claudia Bandeira

Em decorrência da pandemia do Coronavírus, entidades pedem ao STF suspensão imediata do Teto de Gastos

Organizações alegam que créditos extraordinários serão insuficientes para enfrentar a pandemia do Coronavírus e solicitam que haja um Plano de Ação Emergencial que inclua bolsa alimentação a estudantes sem merenda.

Presidente do STF, ministro Dias Toffoli, se reune com autoridades para tratar crise do coronavírus. Imagem retrata reunião de pessoas no Supremo Tribunal Federal.
Presidente do STF, ministro Dias Toffoli, se reune com autoridades para tratar crise do coronavírus. Créditos Fellipe Sampaio / SCO-STF

Entidades de direitos humanos protocolaram ontem à noite (17/3) no Supremo Federal Tribunal uma petição de suspensão imediata da Emenda Constitucional 95, conhecida como Teto dos Gastos. As entidades afirmam que a pandemia de Coronavírus pode levar o sistema de saúde e outras políticas sociais ao colapso e que os efeitos vão ultrapassar 2020. Alegam também que somente a complementação de recursos por meio de créditos extraordinários não conseguirá restabelecer a condição dos sistemas públicos de atender a população afetada.

“Os efeitos são de médio e longo prazo e os créditos extraordinários serão insuficientes para enfrentar tamanha fragilidade do sistema”, argumenta Eloisa Machado, advogada do grupo de entidades, vinculada ao Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos – CADHu.

Segundo as organizações, as políticas sociais vivem hoje um quadro de profunda deterioração com os cortes de financiamento, ao mesmo tempo em que a demanda por atendimento cresce com o aumento acelerado da pobreza e da extrema pobreza decorrente da crise econômica e da precarização das relações de trabalho.

“É nesse contexto explosivo de crescimento da miséria e de destruição das políticas sociais e dos direitos trabalhistas que o COVID-19 chega ao país. Apelamos ao STF para que dê um basta a uma Emenda Constitucional que viola frontalmente os direitos constitucionais da população e só faz crescer a fome, o sofrimento e a morte, favorecendo uma minoria”, destaca Denise Carreira, coordenadora da Plataforma DHESCA e da Ação Educativa, uma das entidades que entraram com a petição.

Plano de Ação Emergencial

Além da suspensão da Emenda, o documento destaca a importância de um plano de ação emergencial de enfrentamento da pandemia com ações de saúde, segurança alimentar, assistência social e educação. Uma das propostas é que o plano inclua a garantia de bolsa alimentação escolar nacional para estudantes que ficarão sem a merenda no período de interrupção das aulas.

A petição é assinada por Ação Educativa, Conectas Direitos Humanos, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Cedeca-Ceará e Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento Educacional (Fineduca), e conta com amplo apoio de fóruns nacionais, redes de sociedade civil, movimentos sociais e instituições acadêmicas.

EC 95: a destruição de um país

Aprovada em dezembro de 2016, a Emenda Constitucional (EC) 95 estabeleceu a redução do gasto público em educação, saúde, assistência social e em outras políticas sociais por vinte anos. Em decorrência dos cortes, a Emenda tem aprofundado os indicadores de miséria e acentuado as desigualdades sociais do país e comprometido as condições de sobrevivência da população, sobretudo da população pobre e negra.

Pelos drásticos efeitos nas condições de vida da população, a EC 95 é objeto das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) 5633, 5643, 5655, 5658, 5715 e 5743 que solicitam sua revogação imediata pelo Supremo Tribunal Federal. Todas essas ADIs foram distribuídas à Ministra Rosa Weber.

Estudos da Plataforma DHESCA; do Inesc/Oxfam/Centro para os Direitos Econômicos e Sociais; e do IPEA, entre muitos outros, vêm demonstrando o profundo impacto da Emenda em várias áreas sociais, acarretando grandes retrocessos na garantia de direitos.

Em agosto de 2018, sete Relatores da ONU lançaram UM pronunciamento internacional conjunto denunciando os efeitos sociais da Emenda Constitucional 95 e o fato do Brasil ser o único país do mundo a ter constitucionalizado a austeridade como política econômica de longo prazo.

Ainda em 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos realizou, depois de mais de duas décadas, uma visita ao Brasil para averiguar a situação dos direitos humanos. O relatório preliminar da CIDH manifestou grande preocupação com o fato de o país ter uma política fiscal que desconhece “o princípio de progressividade e não regressividade em matéria de direitos econômicos, sociais e ambientais”.

Criticada no país e internacionalmente como extremamente ineficaz e destruidora das condições de vida da população, inclusive por organismos internacionais conservadores como o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), a política econômica de austeridade tem como base o entendimento de que há somente um caminho para um país sair da crise econômica: cortar gastos sociais, atacar direitos constitucionais e privatizar bens públicos.

Esse caminho cria um círculo vicioso que desaquece a economia, aumenta o desemprego, diminui a arrecadação de impostos, concentra a renda ainda mais na mão de poucos, destrói setores produtivos da economia nacional e viola – de forma ampla e extremamente perversa – os direitos humanos da população, com impacto terrível nos setores mais pobres. Ao contrário: os investimentos sociais diminuem a desigualdade e são motor de desenvolvimento econômico com justiça social. Por isso, em vários países, mesmo em períodos de crise, há aumento desse investimento, considerada uma medida anticíclica.

Saiba mais:

-Teto de Gastos inviabiliza a implementação do PNE
Crise econômica e austeridade: precisa ser assim?
STF recebe manifestação de inconstitucionalidade da EC95
Cumprimento dos planos e retirada dos efeitos da EC95 são pautas prioritárias para secretarias de educação

Semana de Ação Mundial 2020 (SAM) está com inscrições abertas

Mobilização acontece entre os dias 15 e 22 junho. Inscrições para o recebimento de materiais e para a promoção de atividades da SAM 2020 estão abertas..

Todo ano, durante uma semana, diversas atividades coordenadas pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação são promovidas em escolas, creches, universidades, sindicatos, praças, bibliotecas, conselhos, fóruns e secretarias de educação.

Chamada de Semana de Ação Mundial (SAM), a mobilização tem como intuito reunir diversos públicos para conversar sobre o direito à educação e fazer pressão para que os tratados e as leis nacionais e internacionais de garantia de uma educação pública, gratuita, equitativa, inclusiva, laica, e de qualidade para todas as crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que vivem no Brasil sejam cumpridos.

Com o tema “Educação Contra a Barbárie”, a 17ª edição da SAM pautará, entre os dias 15 e 22, o contexto político brasileiro de retrocessos na educação. O mote da mobilização é inspirado em livro homônimo, publicado pelo pesquisador Fernando Cássio em 2019. Composto por 20 artigos que analisam diferentes temáticas do campo da educação, o livro “Educação Contra a Barbárie” é tomado como referência orientadora do manual da SAM. Assim como o livro, a proposta é que o manual da SAM seja um alerta e um chamamento para que se faça face à barbárie na educação. 

Além disso, a Semana também debaterá a implementação do Plano Nacional de Educação (PNE). O Plano Nacional de Educação é um documento aprovado em junho de 2014, que contém metas e estratégias para a garantia efetiva do direito à educação no Brasil.

Apesar de já ter passado da metade do seu período de vigência, o PNE ainda não tem nenhuma meta integralmente cumprida. Por isso, além do manual de orientações para as atividades, a SAM também terá como subsídio de debate uma série de cartelas de balanço do PNE. Nas cartelas, será possível encontrar diversos dados educacionais que indicam o patamar de cumprimento e descumprimento de das 20 metas do PNE.

Como participar da SAM 2019?

Qualquer pessoa, grupo ou organização pode participar da SAM, realizando atividades em creches, escolas, universidades, sindicatos, praças, bibliotecas, conselhos, e secretarias, envolvendo todas e todos os que se interessam pela defesa da educação pública, gratuita e de qualidade no Brasil.

Para receber os materiais, é necessário inscrever uma proposta de atividade para a Semana. Como o envio de materiais é limitado, é recomendável não deixar para se inscrever de última hora. Enquanto o manual e as cartelas de balanço de PNE não chegam, a/o participante pode baixar os materiais virtuais de divulgação e começar a promover sua atividade.

*Com informações de Campanha Nacional pelo Direito à Educação

*Em função das alterações na programação da SAM como medida para conter o alastramento do CoronaVírus, a matéria foi editada em 16/03 para atualizar as datas.

Saiba mais:

– Nobel da Paz, MalalaYousafzai escreve carta a Rodrigo Maia por um FUNDEB que viabilize a implementação do PNE
– Teto de Gastos inviabiliza a implementação do Plano Nacional de Educação
– MEC extingue SASE, Secretaria responsável por articular o PNE
– 17 países pressionam o Brasil sobre a implementação do Plano Nacional de Educação

Como turmas de licenciatura estão utilizando o jogo De Olho na Escola para debater qualidade na educação

Estudantes tiveram a oportunidade de vivenciar o uso do jogo De Olho na Escola e debater propostas de melhoria da educação. Baixe o jogo gratuitamente.

Foto mostra dois estudantes jogando o jogo De Olho na Escola em aula de licenciatura da Universidade Federal do Alagoas ministrada pela professora Elisângela Mercado
Estudantes de licenciatura em vivência com o jogo De Olho na Escola. Divulgação/ Elisângela Mercado

Nas turmas de licenciatura de Universidade Federal de Alagoas, a ludicidade foi um componente importante para ensinar e aprender sobre qualidade na educação. Por iniciativa da professora Elisângela Mercado, as/os estudantes de pedagogia, geografia, dança e história sistematizaram, brincando, os conhecimentos construídos ao longo do semestre.

Como estratégia didática da disciplina Projeto Pedagógico, Organização e Gestão do Trabalho Escolar, o jogo De Olho na Escola foi utilizado para fomentar a discussão sobre qualidade na educação, os desafios enfrentados no dia-a-dia das escolas e as soluções e encaminhamentos possíveis para cada um.

“O jogo permitiu que os estudantes se debruçassem sobre situações cotidianas, discutindo como a gestão escolar deve agir e considerando o planejamento da escola e sala de aula, bem como as formas de organização do trabalho institucional para atender a diversidade num contexto de equidade e inclusão”, conta a professora.

O De Olho na Escola é um jogo de cartas que estimula o debate com crianças e adolescentes sobre a escola que temos, a escola que queremos e como podemos juntos(as) atuar pela melhoria da sua qualidade. Seja nas escolas de Educação Básica, nas universidades ou nas conferências de educação, o jogo De Olho na Escola pode ser um bom ponto de partida para estimular a discussão sobre política educacional.

“Além de proporcionar grandes debates, [o jogo] estimula a criatividade e a reflexão, dando aos alunos uma visão real, de forma lúdica, da realidade vivenciada nas escolas“, conta a professora.

+ BAIXE GRATUITAMENTE O JOGO DE OLHO NA ESCOLA

Avaliado por Elisângela como uma “ferramenta potente e interessante de discussão da realidade”, o jogo pode ser usado por educadores(as), estudantes, integrantes de conselhos escolares, movimentos sociais e organizações da sociedade civil para conversar sobre a construção de diagnósticos educacionais, o levantamento de propostas para as escolas e/ou secretarias e o monitoramento participativo dos planos de educação.

+ CONHEÇA NOSSOS MATERIAIS SOBRE MONITORAMENTO PARTICIPATIVO

Em 2017, a equipe da Ação Educativa utilizou o jogo De Olho na Escola nas etapas Regional e Municipal da Conferência de Educação de São Paulo para estimular o debate junto às crianças e adolescentes sobre qualidade na educação e prepará-las para as discussões dos Eixos da Conferência Nacional de Educação (CONAE), todos eles vinculados ao monitoramento do Plano Nacional de Educação. Após os debates as crianças e adolescentes eleitas/os delegadas/os apresentaram suas propostas em Plenária.

+ FAÇA O DOWNLOAD GRATUITO DO JOGO AQUI

Foto mostra apresentação dsa crianças e adolescentes na etapa municipal da CONAE São Paulo em 2017, preparativo para etapa nacional em 2018
Divulgação/ Stephanie Kim

Censo Escolar 2019: baixe aqui os microdados sobre a Educação Básica no Brasil

No Censo Escolar 2019, é possível acessar informações estatísticas para o monitoramento e a avaliação de políticas públicas

Infográfico com destaques do Censo Escolar 2019
Infográfico com destaques do Censo Escolar 2019

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou
na última sexta-feira (31/01) os Microdados do Censo Escolar 2019. O Censo Escolar é uma pesquisa realizada todos os anos no Brasil. Ele concentra dados sobre infraestrutura, rendimento, matrículas e docentes de toda a rede pública e privada de Educação Básica. Clique aqui para baixar os Microdados do Censo Escolar 2019.

Além de ser a base para o cálculo do repasse de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), os dados do Censo podem ser utilizados para a formular, monitorar e avaliar políticas públicas na área da educação.

Também na sexta-feira, foi disponibilizada a Sinopse Estatística do Censo Escolar 2019. Trata-se de um cojunto de tabelas que consolida os dados da pesquisa organizando-os por município. As tabelas são divididas por etapas e redes de ensino e apresentam o quantitativo de matrículas, docentes, escolas e turmas. É possível visualizar esses dados de forma associada a outras variáveis, como sexo, raça/cor, localização e dependência administrativa. Para quem deseja monitorar o Plano Municipal de Educação (PME), acessar a sinopse estatística é a forma mais fácil de encontrar os dados da unidade federativa de forma organizada. Clique aqui para baixar a Sinopse Estatística do Censo Escolar 2019.

Leia também:

– Como potencializar o uso de dados para o monitoramento dos planos de educação
– Como Lucas do Rio Verde lidou com a falta de dados para monitorar o plano de educação
– Acesse todos os materiais sobre monitoramento participativo dos planos de educação
– Lei de acesso à informação pode contribuir com diagnóstico de planos de educação
– Passo a passo: como planejar as conferências municipais de educação


As 10 reportagens mais lidas de 2019

A ausência de política federal para a Educação de Jovens e Adultos, a extinção de secretarias do Ministério da Educação e os ataques ao financiamento educacional foram os temas de maior repercussão do De Olho em 2019. Confira lista completa.

Foto retrata duas mãos, já enrugadas, provavelmente de uma pessoa idosa. Uma das mãos segura uma caneta, que escreve algo em um caderno. A palavra, escrita com uma caligrafia imprecisa, aparenta estar sendo escrita por alguém que está aprendendo a escrever.

2019 foi um ano de ataques ao direito à educação. Com a extinção de secretarias do Ministério da Educação, o escanteio de programas e políticas antes operantes, as restrições ao financiamento educacional e o desmonte às instâncias de participação social, os textos de maior circulação do De Olho não foram nada animadores. Nesta retrospectiva, listamos o que mais foi lido em 2019. Que tal revisitar?


1. “A EJA não tem lugar no MEC atualmente”, afirma Sonia Couto

Foto retrata pessoas enfileiradas em cadeiras, olhando para frente, como em uma sala de aula.

Os primeiros meses de governo Bolsonaro registraram várias incertezas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).  Com a extinção da secretaria responsável pela EJA, o fim do organismo participativo (CNAEJA) e a interrupção da distribuição de materiais didáticos, a modalidade foi ignorada pelo Governo Federal. Diante deste cenário de incertezas, o De OIho ouviu Sonia Couto, Roberto Catelli e Miguel Caetano, especialistas da área. Confira!

2. MEC extingue SASE, secretaria responsável por articular o PNE

Foto apresenta o ex-ministro da educação do governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodrigues, falando em microfone.

Depois de assumir o Ministério da Educação, Ricardo Vélez extinguiu a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE). O órgão era responsável por prestar assistência técnica aos municípios no processo de monitoramento e avaliação dos planos de educação, de articulação do Sistema Nacional de Educação e de implementação do Piso Salarial Nacional. Em reportagem, o De Olho recuperou o histórico da secretaria e converssou com técnicos para saber o impacto de sua extinção. Leia aqui.

3. Ministro da Educação apresenta diretrizes para 2019

Foto de plateia de audiência pública promovida pelo Ministério da Educação mostra pessoas em pé, quietas. Uma delas, com a camiseta da entidade estudantil UBES, está com uma faixa sobre a boca, como uma mordaça. Divulgação/Humberto Costa

O Ministério da Educação de Jair Bolsonaro apresentou suas diretrizes de trabalho pela primeira vez no final do mês de fevereiro. Contraditoriamente, a audiência pública proibiu professoras(es) e estudantes de se colocar. Veja a Política Nacional de Alfabetização, Base Nacional Comum Curricular, Escolas-Cívico Militares e outras diretrizes apresentadas pelo à época ministro, Ricardo Veléz, aqui.

4. Cem dias de governo Bolsonaro e a educação: o que aconteceu até agora

Foto apresenta o presidente, Jair Bolsonaro, sentado, com feição séria.

Em especial em parceria com o portal Carta Educação, o De Olho reuniu os temas que tiveram destaque na agenda educacional dos 100 primeiros dias de governo Bolsonaro. Além da retomada dos acontecimentos, a especial Educação Em Disputa também apresentou análises de pesquisadoras(es) e educadoras(es) sobre o período. Revisite o conteúdo completo aqui.

5. Especialistas avaliam o impacto da dissolução da SECADI

Foto apresenta equipe de secretários indicados em janeiro de 2019 para compor o Ministério da Educação (MEC) de Jair Bolsonaro. Além dos secretários, também aparece na foto o à época ministro da educação, Ricardo Vélez.

Tão logo assumiu o Ministério da Educação (MEC), Ricardo Vélez dissolveu a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). O órgão era responsável pelos programas, ações e políticas de Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação para as relações Étnico-Raciais. Para saber o impacto das mudanças, o De Olho conversou com uma série de especialistas. Acesse!

6. Magda Soares: “Pensar que se resolve a alfabetização com o método fônico é uma ignorância”

Foto em preto e branco do rosto de Magda Soares, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais e referência na área de alfabetização.

Um dia após completar 100 dias de governo, Jair Bolsonaro assinou o decreto da Nova Política Nacional de Alfabetização. A proposta já tinha sido anunciada entre as metas prioritárias da gestão. Como parte do especial com a Carta Educação, a reportagem conversou com Magda Soares, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais e referência na área de letramento. Veja aqui o resultado.

7. Conselho Nacional de Educação convoca reunião fechada que pode inviabilizar o Custo-Aluno-Qualidade

Ilustração mostra escola com engranagens em baixo, que ligam o estabelecimento da escola a um computador, alguns blocos com letras do alfabeto, uma etiqueta com um cifrão e uma lâmpada.

No mês de março, o Conselho Nacional de Educação realizou uma reunião extraordinária para deliberar sobre o parecer do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e Custo Aluno-Qualidade (CAQ), mecanismos de financiamento da educação. Mesmo sendo de interesse público, até a véspera do evento, nenhuma informação oficial havia sido divulgada. Diante do cenário de restrição de recursos para a educação, entidades do campo lançaram cartas de alerta de risco de revogação do mecanismo. Saiba como funcionam estes maecanismos e veja as cartas aqui.

8. Por que o investimento em educação pública está ameaçado?

Foto em preto e branco do rosto de José Marcelino Pinto, doutor em educação e professor da Universidade de São Paulo.

Em março, o Conselho Nacional de Educação (CNE) anulou um parecer que regulamentava o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e o Custo Aluno-Qualidade (CAQ), mecanismos que estabelecem padrões mínimos de investimento por aluno para promover um ensino de qualidade. Para avaliar o cenário, e como o não cumprimento do financiamento afeta a educação pública, o especial de 100 dias de Bolsonaro entrevistou o doutor em Educação, José Marcelino. Leia na íntegra aqui.

9. “O que está em disputa é a função social da escola”, avalia Ednéia Gonçalves sobre os 100 primeiros dias de governo Bolsonaro

Foto em preto e branco do rosto de Edneia Gonçalves, socióloga e coordenadora da área de educação da Ação Educativa.

Em videoconferência, Ednéia Gonçalves e Denise Carreira, coordenadoras da área de educação Ação Educativa, analisaram os principais fatos da educação nos 100 dias de governo Bolsonaro para o especial Educação em Disputa. O resumo da videoconferência e o vídeo completo você pode acessar aqui.

10. Daniel Cara: “A composição do MEC sinaliza um projeto de privatização”

Foto em preto e branco do rosto de Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Como parte do especial Educação em Disputa: 100 dias de governo Bolsonaro, entrevista com Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, aborda a composição do Ministério da Educaçãoa e propostas em disputa. Para Daniel, gestão do MEC “é uma radicalização do projeto neoliberal, que já prevê a redução do Estado” Acesse.

Mais recentes: