Lido por Conceição Evaristo em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, manifesto do Bloco Afro Ilú Oba de Min faz referência à presença negra no Plano Nacional de Educação (PNE)
“O nosso Grito se transformou num canto Um canto pela liberdade nos quilombos, campos, aldeias de irmãos Indígenas e cidades Um canto pelo ser, existir, construir e se ver, Se ver no Plano Nacional de Educação, No de Saúde, Habitação, Segurança Social, Mobilidade, Meio Ambiente,…”
Assim ecoou a voz da escritora Conceição Evaristo na sexta-feira (1) em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. No carnaval paulista, o Bloco Afro Ilú Oba de Min é o primeiro a desfilar nas ruas. Neste ano, com uma bateria de 450 mulheres, o cortejo homenageou a fundação, há 40 anos, do Movimento Negro Unificado (MNU). Além de Conceição Evaristo, também estiveram presentes outras personalidades importantes da luta antirracista no Brasil, como Jupiara Catro, Cuti, José Adão, Maria Sylvia e Erica Malunguinho.
“A gente quis relembrar as nossas conquistas. A ideia era remontar, reescrever e trazer para a nossa contemporaneidade, para o momento político que gente está vivendo, a luta e as conquistas do movimento negro. Por isso o convite de personalidades importantes do MNU que estiveram com a gente”, conta Michele Dayane, integrante do bloco.
Com o tema “Negras vozes: o tempo de Alakan”, o cortejo saiu da Praça da República encerrou seu trajeto em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. “Alakan é uma palavra em Iorubá que significa aliança. A gente quis retomar um pouco da campanha que veio no final do ano passado – Ninguém solta a mão de ninguém -, porque a gente sabia que, para este novo momento, não podia deixar que todas as nossas intersecções nos afastassem das nossas metas”, explica.
“Então acho que é o momento de todos os movimentos se unirem, porque o nosso objetivo é um só, que é lutar contra o retrocesso. Por isso retomar as alianças, retomar nossas conquistas históricas e nos fortalecer. Não esquecer que nenhum passo vai ser dado para trás. Reescrever a carta do MNU trazendo os desafios do que a gente quer alcançar é não perder nossa memória, nossa estima e todos os passos que a gente já deu. Para este momento de retrocesso, é importante a gente estar junto”, conclui.
Conheça a trajetória do novo Ministro e de seus Secretários e saiba o que esperar do Ministério da Educação (MEC) de Jair Bolsonaro.
Durante a cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Educação (MEC), ocorrida no dia 2 de janeiro deste ano, o novo Ministro, Ricardo Vélez Rodríguez, apresentou os nomes que irão compor as secretarias do órgão.
Das sete secretarias existentes, apenas
uma será ocupada por uma mulher. O desequilíbrio de representação da gestão
contrasta com a distribuição populacional graduada na área da educação: 9 em
cada 10 pessoas formadas em pedagogia
são mulheres. Elas também ocupam um percentual de 83% dos cargos de docência na
Educação Básica. Além da disparidade de gênero,
a quase totalidade dos cargos é ocupada por pessoas brancas.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, entre os secretários, há indicados de militares, ex-alunos de Veléz e integrantes do Centro Paula Souza (órgão responsável Ensino Técnico do Estado de São Paulo). Técnicos de carreira da pasta e participantes do grupo de transição temem que os novos escolhidos para as secretarias tenham dificuldades em manter as ações antes desenvolvidas pelo Ministério em função de suas trajetórias distantes do campo educacional e da inexperiência em gestão.
Além das mudanças dos titulares das pastas, houve alterações na própria estrutura do Ministério. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) foi dissolvida. Ela era responsável pelas políticas de Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação em Direitos Humanos. Em seu lugar, foram criadas duas pastas: a Secretaria de Alfabetização e a Secretaria de Modalidades Especializadas.
Houve também a criação de um novo subórgão, interno à Secretaria de Educação Básica (SEB): a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico Militares. Polêmica, a militarização das escolas foi pilar da campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República. e já está em processo de implementação em vários municípios do Brasil.
Conheça os perfis dos indicados e saiba o que esperar da nova equipe:
Evento teve como objetivo escutar as diretrizes prioritárias do Ministro da Educação, Ricardo Vélez, para 2019. Apenas senadoras(es) puderam intervir e apresentar dúvidas.
“A imprensa e os ocupantes do final do plenário estão atrapalhando a nossa reunião. Eu avisei no início e estabeleci as regras. Cumpram-se as regras: não será permitido manifestação nesta reunião. Se as pessoas não respeitarem esse quesito, eu serei obrigado a pedir que os senhores e as senhoras possam se retirar”, alegou o senador responsável pela sessão, Mario Berger (MDB).
Durante o tumulto, a senadora Daniella Ribeiro (PP) interviu, ressaltando a importância de que o público colocasse suas perguntas. Ela foi interrompida por Berger: “Essa é uma audiência pública. Quem tem a palavra, única e exclusivamente, são os os senhores senadores. Abrimos um pequeno precedente para o presidente da comissão de educação da Câmara dos Deputados. Mas não é permitida a participação de qualquer outra pessoa que não seja senador”. Ainda tentando se colocar, Daniella sugeriu que, se fosse de acordo das(os) senadoras(es) presentes, houvesse participação de voz ao público, mas foi novamente interrompida.
A senadora Eliziane Gama (PPS) também tentou defender as colocações do público. “Queria registrar que não está havendo uma manifestação com barulho que impeça o transcorrer da audiência. O que estou ouvindo são só os flashes das câmeras fotográficas. Não há porque pedir a retirada de manifestantes, estão na mais tranquila e absoluta paz”, defendeu. Foi sucedida então por mais uma intervenção de Berger: “Não vamos inflar essas questões”, advogou.
Foi então a vez da senadora Zenaide Maia (PROS) argumentar: “A representação dos estudantes e dos professores, é importante. Acho que quando se diz audiência pública não é só para os parlamentares. Vamos ouvir. Como falou a Eliziane, eles não estão incomodando. É como se tivesse uma audiência pública do interesse de nós, senadores, e a gente não pudesse entrar”.
Mesmo com as defesas das senadoras, a audiência seguiu sem que estudantes e professoras(es) pudessem se colocar.
Alfabetização, BNCC, Fundeb, Reforma do Ensino Médio, militarização das escolas, Educação Especial e formação de professoras(es) foram temas abordados pelo Ministro da Educação, Ricardo Vélez. Professoras(es) e estudantes foram impedidas(os) de se colocar.
Em audiência pública realizada nesta terça-feira, 26, no Senado Federal, o novo Ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodriguez, apresentou 7 diretrizes para o ano de 2019. Durante a audiência, estudantes e professores(as) foram impedidas(os) de falar.
Veja os pontos expostos:
1. Política Nacional de Alfabetização
“Precisamos inverter a pirâmide da educação. Hoje, o Ensino Superior tem precedência orçamentária sobre a Educação Básica. Isso precisa mudar”, defendeu o Ministro no primeiro ponto de sua exposição. Para isto, apresentou o que categorizou como sua meta prioritária nos 100 primeiros dias de governo: a Política Nacional de Alfabetização, a ser executada pela recém criada Secretaria de Alfabetização.
Como alicerce, citou o relatório “Alfabetização Infantil: os Novos Caminhos”, publicado pela Comissão de Cultura da Câmara em 2003 e atualizado em 2007. Segundo ele, a principal conclusão do relatório é que as políticas e práticas de alfabetização não têm acompanhado os debates científicos e metodológicos das últimas décadas do século XX. Em função disto, inverter este cenário será o pilar da nova secretaria.
Vélez mencionou também o documento “Aprendizagem Infantil, uma Abordagem da Neurociência, Economia e Psicologia Cognitiva”, publicado em 2011 pela Academia Brasileira de Ciência. O relatório elenca países que modificaram as políticas públicas de alfabetização e obtiveram um progresso significativo na aprendizagem da leitura e da escrita. Entre eles, estão Finlândia, França, Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e Israel. “Não queremos reinventar a roda, vamos ter humildade e fazer o que o mundo está fazendo com sucesso”, propôs.
Por fim, mencionou o Guia Interamericano de Estratégias de Redução de Desigualdade Educativa da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 2018, cujas recomendações estão sendo incorporadas na Política Nacional de Alfabetização. São elas:
Compreender o princípio alfabético;
Aprender as correspondências entre grafemas e fonemas;
Segmentar sequências ortográficas de palavras escritas em grafemas;
Segmentar sequências fonológicas de palavras faladas em fonemas;
Usar regras de correspondência grafema-fonema para decodificar a informação.
Procurado pelo De Olho para avaliar as diretrizes, o educador, economista e coordenador da Ação Educativa, Sergio Haddad, chama atenção para o fato do Ministro não mencionar que o que justifica a maior aplicação dos recursos do MEC no Ensino Superior é a divisão de responsabilidades das etapas educacionais entre os entes federativos.
“O Ministro não menciona que a responsabilidade do MEC é com Ensino Superior, por isto, a maior aplicação dos seus recursos. São os estados e principalmente os municípios que se responsabilizam pela alfabetização e investem seus recursos neste campo. Esta dicotomia entre apoiar o Ensino Superior ou a Educação Infantil não faz sentido, pois, para se ter uma boa alfabetização, é necessário ter um bom Ensino Superior para formar os professores”, explica.
Ele também chama atenção para o esquecimento do público da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na apresentação das prioridades.
“Uma Política Nacional de Alfabetização é importante, mas, infelizmente, o ministro não considera nesta política o elevado contingente de jovens e adultos acima de 14 anos que não sabem ler e escrever, menciona apenas as crianças”, observa.
Vale destacar que a Educação de Jovens e adultos está prevista na Meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE), cuja execução está atrasada. Sergio lembra também do fechamento da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), responsável, entre outras coisas pelas políticas de EJA. “Inclusive, o MEC fechou a secretaria encarregada de atuar com esta modalidade de ensino. Uma lástima!”
2. Base Nacional Comum Curricular
“A BNCC é um documento extenso, fruto de muita discussão e trabalho. Mas palavras impressas no papel não bastam para que o ensino tenha real qualidade. Na sala de aula, a Base precisa ser compreendida e complementada pelas contribuições das redes estaduais e municipais. Desde já convido a todos gestores e professores a tornar esse documento vivo, o que significa criticá-lo, adaptá-lo e compreendê-lo”, informou o ministro.
Neste sentido, informou que serão realizadas ainda neste ano uma formação de professores e a revisão dos projetos pedagógicos das escolas conforme os novos currículos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Para o Ensino Médio, comunicou que a elaboração dos novos currículos alinhados à própria BNCC e aos referenciais paras os itinerários formativos também estão previstos para este ano.
A BNCC tem sido alvo de intensas críticas nos últimos dois anos. Apesar de ter havido períodos de envio de contribuições para o documento e algumas audiências públicas, o processo foi criticado por organizações da sociedade civil, sindicatos e representações acadêmicas por ser muito verticalizado e apresentar uma concepção reducionista de direito à educação. A própria ideia de centralização e homogeneização curricular é também controversa.
Outro ponto de conflito é o respeito à diversidade. Com a justificativa de que a temática de gênero provocara muita disputa – tanto na tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), quanto da BNCC – o MEC suprimiu os termos “gênero” e “orientação sexual” do documento. O Conselho Nacional de Educação (CNE), por sua vez, acatou a sugestão do MEC e prometeu soltar, posteriormente, um documento orientações sobre o tema: até hoje não publicado.
3. Educação Básica
O Ministro anunciou que haverá uma rediscussão do formato do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) com integrantes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED).
O fundo vigente vence em 2020 e novo formato ainda está em disputa. No Congresso, duas propostas foram apresentadas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/2015, da Câmara dos Deputados, aguarda a apreciação do plenário. Já a PEC 24/2017, do Senado Federal, está arquivada devido ao final de mandato e aguarda desarquivamento.
Segundo a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, para a implementação do Custo-Aluno-Qualidade-Inicial (CAQi) e do Custo-Aluno-Qualidade, mecanismos de financiamento determinados pelas estratégias da Meta 20 do Plano Nacional de Educação, é necessário que a complementação da União ao fundo seja de no mínimo 50%. Atualmente, cumpre-se o mínimo constitucional, que é de 10%.
4. Novo Ensino Médio
Quanto ao Ensino Médio, o Ministro frisou que é preciso “torná-lo mais atrativo aos jovens, aproximando-o das realidades práticas do trabalho, mas um trabalho que supere lógicas fordistas”.
Neste sentido, disse que a implementação da reforma dará atenção especial ao quinto itinerário formativo, o do Ensino Técnico. “Hoje é para o empreendedorismo, para a criatividade, que temos que formar os jovens. O 5º eixo formativo do novo Ensino Médio é estratégico para isto. Uma educação tecnológica robusta é o que marca as economias mais avançadas atualmente”, justificou.
Para viabilizar essa mudança, indicou que a rede federal pode ser indutora de um ensino vocacionado para a produção de tecnologia, atendendo as demandas do setor produtivo e da sociedade.
O psicólogo e supervisor da área de juventude da Ação Educativa, Gabriel Di Pierro, avaliou a fala do ministro como muito estrita.
“Ele traz uma perspectiva instrumental da educação em função de uma suposta empregabilidade. Hoje, as redes não tem condições de realizar essa oferta, seja para trazer uma formação tecnológica, criativa, ou mesmo para garantir os diferentes itinerários formativos. Quantos cursos? Com qual qualidade? E se o estudante quiser buscar outros caminhos, terá oferta?”, questiona.
Gabriel explica também que a atratividade da etapa extrapola apenas sua aproximação com o mundo do trabalho.
“Para tornar o Ensino Médio atrativo para a juventude estudante, não basta inserir o ensino profissionalizante, mas abrir diferentes possibilidades, entre as quais o Ensino Superior também está presente, assim como a oferta de atividades culturais, de saídas, de maior diálogo, condições físicas melhores, professores melhor preparados”, completa.
5. Escolas cívico-militares
Outra diretriz prioritária será a militarização das escolas. O Ministro divulgou a recém criada Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares, dentro do escopo da Secretaria de Educação Básica (SEB). No pronunciamento, destacou que a adesão ao programa é voluntária: cada ente federado poderá decidir se tem ou não interesse em militarizar seu ensino.
“O presidente Bolsonaro destacou o desejo de ver difundido o modelo de escola de alto nível com base nos padrões de ensino e gestão empregados nos colégios militares. Experiências em andamento em diversos estados brasileiros têm mostrado que a presença de militares no espaço escolar é algo bem-vindo e bem-visto pelas famílias. Os indicadores de aprendizagem melhoram e ocorre redução da criminalidade”, defendeu.
Cruzando as médias do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o perfil socioeconômico das famílias e o porte das escolas, a equipe demonstrou que Escolas Militares têm desempenho similar ao de unidades não militarizadas mas de perfil parecido. Isto é, o alto desempenho atribuído à militarização está mais ligado, na verdade, a fatores como o perfil socioeconômico das famílias, a existência de seleção e o valor financeiro investido por estudante.
6. Educação Especial
Resultado da extinção da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), a nova Secretaria de Modalidades Especializadas da Educação foi destaque da fala do ministro.
Ele anunciou que o novo órgão possui duas diretorias voltadas para a Educação Especial: a Diretoria de Acessibilidade, Mobilidade, Inclusão e Apoio a Pessoas com Deficiência e a Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos e que as subpastas serão responsáveis por dar continuidade e apoio à Política Nacional de Educação Especial. “Nosso mote é nenhum brasileiro para trás”, proclamou.
Na fala, entretanto, Veléz não mencionou outras políticas e ações que a Secretaria de Modalidades Especializadas da Educação deve assumir. Sendo um resultado de uma alteração na SECADI, é esperado que pasta se responsabilize não apenas pela Educação Especial, como também pela Educação de Jovens e Adultos, a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educação Escolar Quilombola, a Educação para as Relações Étnico-Raciais e a Educação em Direitos Humanos. Todavia, nada sobre essas áreas foi até agora proferido pelo ministro
Procurada pela iniciativa De Olho nos Planos, a assessoria de imprensa do MEC informou que as atividades do órgão estão em ritmo mais lento que o comum devido ao período de transição de gestão. Por isto, não soube informar como serão conduzidas as políticas e ações para estas modalidades.
7. Formação de Professoras(es)
“Como professor, sei dos desafios e dos aspectos inglórios da nossa profissão”, apregoou Vélez. Por isto, destacou como questão urgente promover medidas que assegurem a disciplina dentro das escolas.
“Valorização do professor vai além do salário. O que os professores querem hoje? Trabalhar em um ambiente salubre e ver seus alunos aprenderem. Também querem ter oportunidades de aperfeiçoamento profissional. Vamos investir na educação continuada de professores, cabendo à CAPES esse processo”, assegurou.
Atualmente, a docência encontra-se entre as profissões mais desvalorizadas para pessoas com Ensino Superior. Muito inferior ao de profissionais de outras áreas com o mesmo nível de formação, o piso salarial do Magistério é atualmente de R$2.557,74. Segundo levantamento do MEC de 2017, 45% sequer pagavam o piso. Mesmo com um cenário tão alarmante, o cumprimento do piso não foi um ponto abordado na fala.
A assistência técnica para a implementação do Piso Salarial Nacional era uma responsabilidade da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE), extinta por Veléz em 2 de janeiro.
Polêmicas
Findo o discurso de apresentação das diretrizes, as(os) senadoras(es) apresentaram suas questões ao ministro. Entre tópicos, foram alvo de discussão polêmicas recentes derivadas de declarações do Veléz. Entre elas, constaram críticas ao pedido feito pelo órgão de que as escolas filmassem a leitura do slogan de Bolsonaro durante a execução do hino nacional com estudantes e docentes e a declaração de que as universidades deveriam ser apenas para uma elite intelectual.
Plano Nacional de Educação
Veléz foi também interrogado sobre o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE). Solicitou-se que o ministro apontasse, entre as metas do documento, quais seriam as consideradas prioritárias pelo MEC e como se dariam os esforços políticos, financeiros e técnicos para o seu cumprimento. A pergunta, entretanto, não foi respondida.
Rumo ao 5º ano de vigência, o PNE encontra-se escanteado pelo governo federal. Balanço apresentado em julho do ano passado mostra que somente 30% dos dispositivos previstos para os quatro primeiros anos tiveram algum avanço e somente um foi cumprido integralmente, mas com atraso.
Além do desinteresse político, outro fato apontado como responsável pela não execução do PNE é o Teto de Gastos. O congelamento orçamentário de 20 anos definido pela Emenda Constitucional 95 (EC95) inviabiliza a execução da Meta 20 (que trata de financiamento) e tem um efeito cascata sobre as outras propostas do plano.
Questionado sobre a falta de recurso nos municípios para o aprimoramento do ensino, Veléz ignorou o cenário de corte federal e atribuiu aos secretários o problema. “Os secretários municipais fazem o serviço de preencher esse monte de formulários que precisam apresentar ao MEC para receber recursos. Por vezes, muitas vezes, esses documentos ficam pelo caminho, porque não foi preenchida corretamente a planilha Excel no computador”. Como solução, afirmou que o técnicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) se deslocarão os municípios para dar suporte ao preenchimento de formulários e à produção de requerimentos.
Decreto extinguiu a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE), órgão responsável por articular Plano Nacional de Educação. Saiba o impacto disso.
Depois de assumir a presidência e nomear Ricardo Vélez Rodríguez como Ministro da Educação , Jair Bolsonaro (PSL) extinguiu a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE). O órgão era o principal responsável por prestar assistência técnica e dar apoio aos municípios no processo de monitoramento e avaliação dos planos de educação.
Para Claudia Bandeira, mestre em educação e assessora da iniciativa De Olho nos Planos, a medida evidencia o descaso do governo federal com os planos de educação. “Durante o período eleitoral, só 4 candidaturas à presidência citavam o PNE. A de Jair Bolsonaro não estava entre elas. Agora, com o desmonte da SASE, fica ainda mais clara a indiferença deste governo ao PNE, principal instrumento da política educacional do país”.
Histórico
A Secretaria foi criada em 2011 a partir de uma demanda apontada durante a Conferência Nacional de Educação (CONAE) 2010. Entre os pontos debatidos no evento, teve destaque a urgência da construção de um Sistema Nacional de Educação (SNE) que articulasse os diferentes entes federativos e níveis de ensino. Foi também esta conferência que aprovou as bases para a construção do atual Plano Nacional de Educação (PNE).
Na ocasião, foi solicitada ao Ministério da Educação (MEC) maior presença na articulação de diferentes atores sociais para a construção do SNE e a constituição de um sistema que pudesse dar suporte à construção e à implementação dos planos. Em resposta a essa demanda, foi criada a SASE.
Em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o órgão estruturou ao longo de 2014 uma rede de apoio técnico composta por avaliadores/as educacionais, supervisores/as e coordenadores/as estaduais, divididos por polos dentro de cada estado. Nesta primeira fase, o principal objetivo da Rede de Assistência Técnica era fomentar a construção dos planos e garantir que as metas fossem elaboradas em consonância com o documento nacional. Para isso, foram criadas comissões coordenadoras locais de suporte à elaboração e revisão dos planos.
“Nós iniciamos o trabalho orientando um conjunto de municípios na elaboração dos planos municipais de educação”, conta Rosilene Lagares, avaliadora educacional técnica do estado do Tocantins. Ela conta que a maioria dos planos municipais que acompanhava foram aprovados nas casas legislativas em 2015 e, depois disso, iniciou-se o processo de implementação das metas e estratégias. “Passamos do trabalho de assistência ao monitoramento e à avaliação desses planos municipais de educação”, relata.
“Nesse processo de assistência nós mantivemos contatos remotos, por e-mail, whatsapp, telefone, e também por meio de formações junto a técnicos dos municípios e participantes da sociedade em geral que compunham as equipes técnicas e as comissões coordenadoras. Então orientávamos sobre a importância dos planos, como fazer o monitoramento e a avaliação, a necessidade de fazer isso, mas, antes de tudo, de implementar os próprios planos”, reforça.
Continuidade incerta
Com a mudança de mandato do governo federal e a extinção da SASE, o rumo da rede fica incerto. “Até o presente momento não recebemos nenhuma comunicação oficial da parte do MEC sobre a nossa saída. Contudo, sabemos que a SASE foi extinta e as pessoas que trabalhavam nessa rede dentro do âmbito do MEC foram remanejadas ou foram demitidas”, conta Rosilene.
Procurada pela iniciativa De Olho nos Planos, a assessoria de imprensa do Ministério da Educação informou que as atividades do órgão estão em ritmo mais lento que o comum devido ao período de transição de gestão, e que, por isso, o destino dos programas e das ações das secretarias extintas ainda não estão definidos.
Pelo registrado no Decreto que extinguiu o órgão, as competências da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase) foram alocadas na Secretaria de Educação Básica (SEB), ficando, portanto, a cargo da SEB a responsabilidade de monitorar o Plano Nacional de Educação (PNE) e articular o Sistema Nacional de Educação (SNE).
A decisão sobre a continuidade de existência da Rede de Assistência Técnica, bem como de seus membros, ainda terá que ser definida pelos gestores da SEB e não tem data prevista para acontecer.
Para Rosilene, apesar de alguns desafios enfrentados, a rede foi um passo importante na construção da política educacional e deveria ser mantida.
“A rede tem vários problemas por conta a dimensão territorial do país, mas ela foi um apoio para os municípios nesse processo de planejamento, então a continuidade dessa rede seria essencial para o desenvolvimento da educação”, avalia.
Além do suporte técnico, a SASE era também responsável pela manutenção de um portal: Planejamento a Próxima Década/ PNE em Movimento. Na plataforma, é possível encontrar documentos orientadores, acessar um mapa de acompanhamento da situação dos planos nos estados e municípios, fazer download dos planos, consultar uma relação com nome, e-mail e telefone das/os coordenadoras/es estaduais da Rede e ler notícias sobre a temática dos planos. Apesar do portal seguir no ar, não há notícias ou fotos relativas ao ano de 2019.
Sistema Nacional de Educação
Pelo estabelecido no Artigo 13 do PNE, o SNE deveria ter sido instituído até a metade do ano de 2016. Há três anos em tramitação na Câmara dos Deputados, o projeto de lei que estabelece as diretrizes e o funcionamento do Sistema foi objeto de audiências e debates públicos, mas ainda aguarda aprovação.
Segundo o balanço de quatro anos do Plano elaborado pela Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, a anexação de dois projetos de lei, o PLP 413/2014, de autoria de Ságuas Moraes (PT/MT), e o PLP15/2011, de Felipe Bornier (PHS/RJ), feita pelo deputado Glauber Braga (PSOL/RJ) fez com que a articulação do Sistema avançasse consideravelmente. Entretanto, sua completa efetivação depende do cumprimento das estratégias de financiamento, que, devido ao Teto de Gastos (EC95) se encontram em atraso e sem previsão de execução.
(Des)valorização docente
Além do monitoramento dos planos e da articulação do Sistema Nacional de Educação, a SASE também era responsável pela assistência técnica para a implementação do Piso Salarial Nacional, orientando os estados e municípios sobre como torná-lo viável em seus orçamentos.
Atualmente, a carreira de professor/a encontra-se entre as mais desvalorizadas para pessoas com Ensino Superior. Muito inferior ao de profissionais de outras áreas com o mesmo nível de formação, o piso salarial do Magistério é atualmente de R$2.557,74.
Pela Meta 17 do PNE, até 2020, a média salarial da categoria deveria ser equiparada à de outras/os profissionais com o mesmo nível de formação. Para que isso aconteça, o reajuste deveria ser maior do que tem sido nos últimos anos (em 2019, foi de 4,17%). Além disto, seria necessário haver um esforço em torno do cumprimento do valor já estipulado. Segundo levantamento do MEC, em 2017, 45% dos municípios sequer pagavam o piso. Longe de alcançar a meta, o Brasil espera agora da SEB a definição do formato da assistência técnica para a implementação da lei.
A importância da rede
O acompanhamento de uma política de Estado, cuja duração ultrapassa o tempo de um governo, não deve ficar restrito às equipes gestoras da administração pública, mas ser feito em diálogo com toda a sociedade. Por isso, a formação de redes de capacitação técnica e a implementação de ações de estímulo à participação não pode ser abandonada pelo Ministério.
“Além da participação de toda sociedade no monitoramento dos Planos de Educação, eles, por serem de território, devem levar em conta todo o atendimento educacional, da Educação Básica ao Ensino Superior, existente em um estado ou município. Por isso, ter uma rede de acompanhamento é importante também para mobilizar diferentes entes federados na implementação e monitoramento desses planos”, defende Claudia Bandeira, mestre em educação e assessora da iniciativa De Olho nos Planos.
“Diante desta conjuntura, é cada vez mais é importante que os municípios sejam a resistência e não deixem que o plano seja esquecido. Publicizar os resultados das conferências de educação e elaborar um plano de cumprimento das próximas metas, reforçando a importância e a relevância dessas políticas de Estado, pode ser uma estratégia para não deixar que os planos viram letra morta”, sugere.
Ela ressalta também a importância de se garantir a participação social nesses processos, que devem ser conduzidos não apenas pela Secretaria ou Conselho, mas por toda a comunidade escolar. “Vamos ampliar a roda para não deixar o plano morrer”.
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