Ganhador de Nobel da Paz defende participação da população no monitoramento de políticas educacionais

Kailash1Em atividade realizada em São Paulo, indiano Kailash Satyarthi destaca importância de ação coletiva para fim do trabalho infantil e para a garantia do direito à educação

 

Com auditório lotado, o prêmio Nobel da Paz de 2014, o indiano Kailash Satyarthi, participou de aula pública realizada na última terça-feira (26/01) em São Paulo e destacou a importância da atuação da população não só como parceira de políticas públicas na área educacional, mas como formuladora de críticas e de demandas para uma educação pública de qualidade. “A sociedade civil tem que realizar uma auditoria social da educação, fazendo com que a demanda popular seja transformada em uma política com monitoramento constante”, ressaltou.

Em conversa antes da atividade organizada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Kailash alertou para a importância de se combater o trabalho infantil como forma de avançar na garantia do direito à educação. Durante a aula pública, o Nobel defendeu que estas são duas questões que estão de um mesmo lado da moeda. “O Brasil ainda tem um grande número de crianças trabalhadoras e que estão fora da escola não por ficarem em casa brincando no computador, mas sim por estarem trabalhando no setor agrícola, fazendo serviços domésticos, vendendo coisas para sobreviver na rua ou mesmo sendo usadas para a prostituição infantil. Esses são os maiores obstáculos para a educação”, complementou.

Reconhecido internacionalmente pela atuação contra o trabalho infantil desde 1980 e pela luta pelo direito à educação, Kailash tem sua trajetória marcada pela participação no resgate de cerca de 80 mil crianças em situação de exploração e pela articulação de movimento global nesta área.

No que se refere ao Brasil, o ativista também aponta que o país deve enfrentar o desafio de melhorar a qualidade da educação básica, assegurando a igualdade e a inclusão no oferecimento do ensino. “No entanto, uma coisa boa aqui são os programas Bolsa Escola e Bolsa Família que ajudaram a levantar inúmeras famílias na escala social, melhorando o orçamento das mães das crianças e criando ambiente onde possam frequentar a escola, completar o ensino e tratar de sua saúde. O Brasil foi o berço destes programas de assistência social que hoje são replicados em muitos países”, pondera.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, o Brasil ainda possui cerca de 2,8 milhões de crianças e adolescentes fora da escola.

 

Solução coletiva

Para Kailash Satyarthi, o trabalho infantil é um “problema global e que não está presente só em países grandes ou em países pobres e tem que ser resolvido coletivamente”. “Os governos devem fazer leis e políticas apropriadas, implementando-as para que as pessoas sejam responsabilizadas. Tem que se gastar mais dinheiro em educação, combatendo o trabalho infantil”, defende o ativista.

O fim do trabalho infantil, segundo Kailash, está relacionado com a construção de uma sociedade realmente livre: “a liberdade é o maior presente divino e eu acredito que a luta pela liberdade de todos é o que impulsiona a criação da história humana. O crescimento desta história também é o crescimento da expressão da liberdade de mente, de alma”.

Segundo ele, existem três “Ds” que podem ajudar no combate ao trabalho infantil e na luta pelo direito à educação: o sonho (em inglês traduzido como “Dream”) coletivo; a descoberta da força que existe dentro de cada pessoa (em inglês, “Discovery”); e o fazer (em inglês, “Do”) já que “a história é feita por todos aqueles que têm coragem de ir à luta”.

 

Ocupando o mundo todo

Kailash2Ao final de sua apresentação e dialogando com estudantes secundaristas que ocuparam as escolas estaduais paulistas em 2015, o indiano ressaltou a importância do movimento de jovens para o que chamou de “globalização da compaixão”. “Eu clamo pela globalização da compaixão e dependo muito dos jovens. A liderança está em cada um de vocês e o mundo tem que respeitar e reconhecer o poder da energia de vocês. Os jovens estão se levantando e ninguém vai poder pará-los”, destacou Kailash, afirmando que irá lançar uma campanha com o objetivo de atingir 100 milhões de jovens de todo o mundo.

Perguntando sobre a possibilidade de se juntar à campanha dos estudantes paulistas, o ativista reafirmou a importância da luta conjunta para a garantia dos direitos a todas as pessoas: “Posso me juntar a campanha de vocês? Só que aí vocês também terão que ocupar o mundo todo”, brincou Kailash. E complementou: “nós temos que falar, levantar a nossa voz. Se milhões e milhões de pessoas quebrarem o silêncio, nós vamos conseguir acabar com os maus do mundo”.

Ao pegar o microfone, os 11 estudantes secundaristas presentes destacaram a importância da mobilização que realizaram em 2015 não só para que a reorganização do ensino fosse revogada no Estado de São Paulo, mas também para sua formação e aprendizado.

“A gente passou a ver a escola de outro jeito. Depois da família, a escola é o primeiro contato que temos com o mundo e a ocupação mostrou que é possível ter outros tipos de experiência lá dentro. A gente resignificou a escola”, afirmou o aluno Ícaro.

Paula, outra estudante, comentou: “sempre fomos induzidos a obedecer, mas por quê? Nós queremos também opinar e criticar. Hoje a professora pergunta coisa para a gente que nunca imaginaríamos. Eu aprendi a respeitar as pessoas e, depois da ocupação, nós viramos irmãos, um ajudando o outro e sem desistir em momento nenhum”.

“A luta foi boa, mas ainda não terminou”, afiançou a aluna Luana afirmando que o movimento dos estudantes continua.

 

Imagens: Campanha Nacional pelo Direito à Educação

 

Reportagem: Gabriel Maia Salgado

Edição: Ananda Grinkraut

Uma ideia sobre “Ganhador de Nobel da Paz defende participação da população no monitoramento de políticas educacionais

  1. Joana Ribeiro

    Muito bom. Que tal melhorar mais ainda?
    Melhorar seus resultados com tecnicas de fora da caixa. Algo que poucos ou ninguém comenta.
    Clique no meu nome para ver o vídeo e saber mais.
    Sucesso!

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