Como os fóruns municipais de educação devem atuar neste início de nova gestão

Estabelecer diálogo com os novos gestores é o primeiro passo essencial para manter os planos de educação no centro das novas administrações

 

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O ano de 2017 deve colocar à prova o processo de continuidade de políticas públicas educacionais no país. Se no período de 2013 a 2016 a vitória foi a aprovação de planos de educação em quase 100% das cidades brasileiras, as novas (e antigas) gestões têm como desafio continuar a colocar esses planos em prática, principalmente considerando os processos participativos que já ocorreram em muitos dos municípios, e que devem nortear o monitoramento e a avaliação dos planos.

Assim, ainda que os planos de educação sejam documentos que têm força de lei e se configuram como um importante instrumento contra a descontinuidade das políticas, é preciso que os órgãos e instâncias responsáveis pela sua implementação estejam atentos nesse período de transição para mantê-los no centro do debate durante a próxima gestão. Entre elas, os fóruns municipais de educação têm um papel central neste processo, principalmente nas 4.199 cidades brasileiras em que novos prefeitos tomaram posse em 2017.

“É importante ter esse espaço de diálogo permanente, para não perdermos o processo de continuidade e para evitar o que historicamente nós temos no Brasil – que é quando você muda o prefeito ou o secretário, você muda a política e não respeita muito o planejamento que está colocado para a área educacional. O plano de educação é um planejamento importante nesse processo”, defende Heleno Araújo, coordenador do Fórum Nacional de Educação (FNE).

 

O papel dos fóruns e os planos de educação

Os fóruns de educação são espaços permanentes de participação da sociedade na formulação e acompanhamento da política educacional de cada território. A sua implementação e o seu papel estão previstos no Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/14), dentro da meta 19, sobre a efetivação da gestão democrática da educação: “incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com o intuito de coordenar as conferências municipais, estaduais e distrital bem como efetuar o acompanhamento da execução deste PNE e dos seus planos de educação”.

Há, no Brasil, 1.762 fóruns municipais e 27 fóruns estaduais de educação, de acordo com um levantamento do FNE de maio de 2016. Muitos desses fóruns foram constituídos ou resgatados em 2013 ou 2014, durante o processo de construção dos planos de educação, na perspectiva de garantir a participação social no desenvolvimento e elaboração dessas metas e estratégias para o município. Com os planos aprovados, os fóruns devem continuar atuando para monitorar o seu cumprimento – e, no caso do período atual, fazendo essa interlocução com a nova gestão municipal.

“Eu dizia para muitos dos candidatos e os seus interlocutores, quando eles estavam preocupados em elaborar plano de governo, que eles não tinham que inventar muito, porque já existe um Plano Municipal de Educação. Se eles seguissem e cumprissem esse plano, já seria uma ótima gestão”, diz Elcivan Gonçalves França, presidente do Fórum Municipal de Educação de Goiânia. Na capital de Goiás, a gestão petista de Paulo Garcia saiu para a entrada de Iris Rezende (PMDB).

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Abertura, diálogo e escuta com a nova gestão

“Acho que esse primeiro momento é de se apresentar mesmo, apresentar o papel do Fórum e quem o compõe, apresentar o documento, enfim, tudo o que existe para os gestores”. Essa é a dica que Elcivan dá para os integrantes de fóruns iniciarem essa relação agora no começo do ano. Como “guardião do Plano”, o Fórum deve estar atento para como os novos gestores vão proceder nesses primeiros dias de governo e ficar à disposição para ajudá-los no conhecimento sobre as políticas passadas e o andamento das metas.

“Nós estamos chamando a nova gestão para dizer o que já existe. Informar que há um plano, que já tem algumas ações que estão sendo executadas – como a reformulação da Lei dos Sistemas”, explica Elcivan. O Fórum de Goiânia também está solicitando que as entidades participantes reforcem ou indiquem outro candidato, em uma nova chamada para representação, com a expectativa de fortalecer o Fórum.

Em Florianópolis, a prefeitura que antes era do PSD foi assumida por Gean Loureiro (PMDB). O desafio por lá é garantir que a participação que houve durante a construção do Plano continue no processo de avaliação e monitoramento nos próximos anos. “O nosso plano foi uma vontade da sociedade. O Fórum discutiu e preparou, colocou em consulta pública, deixou bastante tempo para que as pessoas contribuíssem. Então não é uma questão desse governo. É uma questão de estado, da cidade, da sociedade”, diz Pedro Rodrigues da Silva, co-coordenador do Fórum Permanente Municipal de Educação de Florianópolis, que conta com 36 entidades.

É comum que no período de transição de gestão, que ocorreu no final do ano passado, os fóruns de educação tenham sido contatados pelas equipes da nova gestão para iniciar as conversas. Porém, em casos em que não houve essa movimentação, o presidente do fórum de Goiânia Elcivan lembra que é preciso que os fóruns municipais exerçam a sua autonomia, sem ficar no papel de espectador: “o fórum tem que provocar a discussão. Convidar os gestores da próxima administração para reunião, esclarecer para eles o que existe. Afinal, não é a Comissão ou o Fórum que tem que se adaptar ao gestor, é o gestor que tem que se adaptar ao trabalho que tem sido feito de acordo com o Plano municipal de educação”.

Exercer o seu papel de guardião do plano é ainda mais urgente se considerarmos que estão previstas para acontecer já no primeiro semestre deste ano as etapas municipais da Conferência Nacional de Educação (CONAE 2018). “Para ter as etapas municipais e estaduais, é necessário também que os fóruns tenham as condições de existir e de reconstruir esse processo. Teremos muitas dificuldades se um prefeito que assumir agora colocar resistência a ter esse espaço como um espaço de diálogo permanente e de construção coletiva das políticas educacionais”, alerta Heleno Araújo.

Neste sentido, a dica é deixar preparado um calendário dos eventos esperados para 2017. “É importante que os fóruns já existentes façam a agenda de atividades, inclusive o lançamento das conferências, seminários, debates do tema, sobre os eixos colocados na Conae 2018, que já foram aprovados pelo FNE, para manter vivo a atuação do fórum naquele município e no estado”, diz Heleno.

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Reportagem: Stephanie Kim Abe
Edição: Claudia Bandeira

 

Foto 1: Situação dos Planos de Educação, retirado do portal PNE em Movimento no dia 03 de janeiro de 2017
Foto 2: Elcivan Gonçalves França, presidente do Fórum Municipal de Educação de Goiânia  (Crédito: Sase/MEC)
Foto 3: Heleno Araújo, coordenador do Fórum Nacional de Educação (Crédito: Waldemir Barreto/Agência Senado)

 

6 ideias sobre “Como os fóruns municipais de educação devem atuar neste início de nova gestão

  1. eduarda araujo

    olá, sou participante do forum municipal e represento os alunos de escolas públicas. E não sei o que falar em um discurso, gostaria que me ajudasse.

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  2. Araci Pereira Leite Sodré

    Ainda não ficou claro para mim a data da conferência nacional ? hoje em reunião com o Fórum Permanente de Educação do Município de Piedade/SP não pude informá-los.Será que já podemos fazer a faixa para a conferência com o Logo. Nossa conferência será nos dias 21 e 22 de junho de 2017. Já havíamos programado e vamos permanecer no 1º semestre mesmo tempo mudado por questão de agenda, porque a audiência pública foi agendada na câmara municipal em 5 de junho, visto que o nosso PME vai precisar de ajustes.

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    1. Administrador Autor do post

      Olá, Araci!
      Tudo bom?

      A data da Conferência Nacional está indefinida mesmo, por causa do novo decreto de convocação da Conae 2018 (de 26 de abril de 2017), que alterou o de 09 de maio de 2016.
      Como há muita indefinição sobre a Conae e o Fórum Nacional de Educação, o ideal é que você entre em contato com o coordenador do FNE, Heleno Araújo, para tirar todas as suas dúvidas a respeito. Você pode falar com o Fórum pelo email ou pelos telefones (61) 2022-7852 / 7853/ 8758/ 7854 7965 / 9417.

      Att,
      Equipe De Olho

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  3. Araci Pereira Leite Sodré

    Esse ano de 2017 será bem complicado, não acredito que no meu município vamos ter tempo de realizar a conferência, por causa da mudança do gestor municipal, e se fizer não dará tempo para o primeiro semestre, visto que os Conselhos foram substituídos. Se acontecer o debate; em preparo a nossa conferência municipal, as nossas discussões precisam ser no mesmo formato da anterior, as “Cirandas pela Educação”, e demanda muito tempo, mas é a forma participativa que encontramos; pois deu oportunidade à todos os segmentos, independente do número de pessoas e a distância, visto que mais de 50% da nossa população encontra – se na zona rural.
    Com a crise no Brasil a administração busca soluções urgentes para situações emergentes, ou vice-versa; como alguns repasses atrasaram em várias áreas, ainda tem muito a realizar, Por mais que o município busque soluções, dependemos dos repasses para o bom funcionamento de vários setores. Percebo que muito ainda precisa ser feito ou atendido à população, desde a aprovação do nosso PME em 2015. Gostaria de saber se vocês já possuem um levantamento do que foi cumprido do PNE, para delinear os estados e municípios, e vão publicar para nos orientar? Por que para abrir um debate temos que nos munir de muitas respostas, argumentos e embasamento legal para certas perguntas que ainda não temos como responder.

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    1. Administrador Autor do post

      Olá, Araci!
      Tudo bom?

      Agradecemos o contato. O De Olho não produziu nenhum levantamento sobre o que foi cumprido no PNE. Mas há estudos oficiais, como o do Inep, que podem ajudar nesse monitoramento. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) lançou, no ano passado, o Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE: Biênio 2014-2016. De acordo com o art 5º parágrafo 2º da Lei 13.005/14, que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE), é dever do INEP publicar estudos a cada dois anos, ao longo do período de vigência do Plano, “para aferir a evolução no cumprimento das metas estabelecidas no Anexo desta Lei”: http://www.deolhonosplanos.org.br/relatorio-metas-pne-inep/
      Além disso, você também pode monitorar as metas pelo site do Observatório do PNE: http://www.observatoriodopne.org.br/

      Com relação às Conferências de Educação, os documentos base para a sua realização já estão disponíveis: http://www.deolhonosplanos.org.br/documento-aprovado-conae-2018/. Ele pode ajudar a ter uma direção de como fazer essa discussão no seu município.

      Qualquer dúvida, estamos à disposição.

      Att,
      Equipe De Olho

      Responder

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