Seminário discute participação e influência da gestão escolar na garantia de educação menos desigual e contra práticas racistas nas escolas brasileiras
Cristina Trinidad (esq) e Cida Bento (dir) – Divulgação
Como a participação dos jovens pode tornar a escola menos desigual? Ao responder esta pergunta, a oficial de projetos do setor de educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Cristina Trinidad, reforçou a importância do protagonismo dos estudantes e a ligação da escola com a cultura juvenil como forma de combater as desigualdades e o racismo em sala de aula.
“É necessário um maior diálogo entre diretores, docentes, pais, mães e alunos, além da abordagem de temas que sejam mais interessantes ao jovem, como sexualidade, esportes, emprego e renda”, afirmou Cristina, durante o seminário Gestão Escolar para a Equidade: Juventude Negra, realizado no último dia 19 de agosto no Museu Afro Brasil, em São Paulo.
Para aumentar este diálogo, a oficial da Unesco defendeu uma ligação mais próxima entre a escola, movimentos e organizações da sociedade civil, e o protagonismo dos jovens na tomada de decisões, por exemplo, sobre o conteúdo que será abordado nas disciplinas. “O professor pode ser o sistematizador do conhecimento que os jovens trazem para o ambiente escolar, participando até mesmo da elaboração dos materiais didáticos. No caso do ensino médio, a produção dos materiais podem contemplar o protagonismo da juventude negra”, exemplificou.
Para a diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Cida Bento, a participação dos estudantes é fundamental para o acesso e a melhoria da qualidade educacional. “Não tenho nenhuma dúvida que, ao serem ouvidos, os jovens podem contribuir para melhorar o currículo, escolher os livros da biblioteca e participar de toda a gestão da escola. Essa participação faz com que encontremos soluções adequadas à realidade dos alunos”, afirmou.
Para Cida, deve-se criar espaços em que o jovem não se sinta manipulado, mas sim que perceba a efetividade de sua participação. “Oferecer esta oportunidade para o jovem é de muita importância. Pode ser que ele não ganhe sempre nas discussões, mas é fundamental que participe dos processos de decisão”, defendeu a diretora.
Já para a estudante universitária e professora de educação artística na Fundação Casa, Micaela Cyrino, a participação dos estudantes contribui com a equidade a partir do momento em que ajuda na construção da identidade do próprio aluno: “as iniciativas que envolvem os alunos são um passo fundamental para a batalha diária de se assumir como cidadão e cidadã negra e nós que estamos na sala de aula temos que refletir sobre como a escola deve trabalhar neste sentido”.
Boas práticas
“Ao conhecer a história do quilombo de sua comunidade, os alunos puderam resgatar, também, suas histórias, raízes e cultura. E, ainda, tornaram-se autores e produtores, pois criaram um documentário que se traduziu em material didático sintetizando o discurso das lideranças nesse processo, destacando as lembranças e o significado de quilombola no contexto do movimento atual”.
Atividades com estudantes na comunidade de Bom Jardim (PA) – Divulgação Ceert
Este é um trecho do relatório sobre os dez anos do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, em que se descreveu a prática História de negros do Baixo Amazonas: Bom Jardim, estudo de caso de uma comunidade negra em busca da sua identidade quilombola – período de 1996 a 2006. Realizada na comunidade de Bom Jardim, em Santarém (PA), a atividade ilustrou de forma lúdica como os temas da história e cultura africana e afro-brasileira puderam contribuir com a construção de identidade de toda a comunidade.
Para isso, segundo a diretora executiva do Ceert, “a professora e os alunos registraram, por meio das narrativas da comunidade e de lideranças, a trajetória do movimento quilombola em Bom Jardim”, levando à comunidade escolar os conceitos de quilombo e demais saberes locais. Coordenado pelo Ceert, o prêmio analisou 2300 ações e reconheceu cerca de 170 boas práticas em todo o Brasil.
Edital aberto para escolas
Voltado para escolas públicas de ensino médio e organizações com interesse na área da educação e superação das desigualdades raciais, o edital Gestão Escolar para Equidade – Juventude negra, lançado também no dia 19 de agosto, está aberto para inscrições até o dia dez de outubro.
Uma iniciativa do Fundo para Equidade Racial Baobá e da Ufscar, com apoio técnico do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), o edital está aberto para projetos que deverão ter duração de doze meses. Se aprovados, as iniciativas terão o apoio de até 30 mil reais. Cada organização poderá apresentar apenas um projeto. Para mais informações, os interessados devem acessar o site do Fundo Baobá.
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Reportagem – Gabriel Maia Salgado
Edição – Ananda Grinkraut